domingo, 16 de junho de 2019

P.U.S. – Presets (1996):




Por Davi Pascale

Heavy metal, samplers e batuques

Toda vez que um artista faz algo fora do seu território, um verdadeiro massacre acontece. Tanto por parte da crítica, quanto por parte dos fãs. Há vezes, realmente, em que o artista pisa no tomate, mas tem vezes onde a crítica é um tanto injusta. Esse álbum do P.U.S. é um trabalho que considero as críticas um tanto quanto infundadas, mas antes de falar sobre o álbum, vamos entender um pouquinho o cenário.

O P.U.S. foi criado em 1987, em Brasília, e apostava inicialmente em uma sonoridade onde mesclava elementos de hardcore com o death metal. Hoje, seria considerado um som old school. Na época, era, bem...  O som da época! Seu primeiro registro foi um compacto que atendia pelo nome de Third World, lançado no ano de 1990. Seu primeiro LP, auto-intitulado, foi lançado no ano seguinte. Esses dois primeiros registros apontavam exatamente nessa sonoridade death/hardcore e colocavam o grupo no centro do metal extremo nacional.

Seu trabalho seguinte, Sin In The Only Salvation, de 1994, trazia algumas mudanças no som do grupo. Os músicos apostavam em uma sonoridade um pouco mais cadenciada, trazendo um som  mais elaborado que pendia mais para o thrash metal do que para o death metal propriamente dito. As letras também sofreram algumas modificações. As letras sobre sexo foram deixadas de lado. Os assuntos continuavam obscuros, mas os temas mudaram. Deixaram assuntos como morte e violência de lado, e passaram a falar sobre ocultismo, escuridão, além de canções repletas de criticas sociais. Uma delas escrita ao lado do saudoso Chico Science (sim, o próprio), que também faz uma participação na faixa, o quase-hit “Comando Vermelho”.

Pouco a pouco, a popularidade crescia. Os músicos começaram a passar por todas aquelas experiências que uma banda que está em ascensão passa. Tiveram clip veiculado na MTV, começaram a participar de grandes festivais (entre eles, o Super Metal Festival, onde dividiram o palco com Korzus, Krisiun, Kreator, entre outros), tiveram reportagens em revista, os músicos começaram a conseguir patrocínios com grandes marcas, etc. O problema é que os caras queriam mais e o publico de metal, como já sabemos, tende a ser conservador.

Anúncio da Washburn com Syoung na fase do Presets

Na época de Sin Is The Only Salvation, a banda era formada pelo casal Ronan (voz) e Syoung (guitarra), além de Selvagem (baixo) e Rodrigo (bateria). Aqui, a banda já havia sofrido dois baques. A saída do guitarrista Xicone, que participou apenas do compacto, e a morte do baterista Feijão, com quem haviam gravado o primeiro long play. O rapaz morreu, na época, vítima de HIV. O próximo trabalho traria mais mudanças. Tanto na formação, quanto na sonoridade. E as mudanças começam com um inusitado encontro.

Antonio Celso Barbieri é um jornalista e produtor que morava em Londres. Ele era um dos contatos internacionais da MTV Brasil. Foi ele quem forneceu as imagens do Korzus se apresentando no Marquee Club para que fossem utilizadas no especial sobre a banda. Pois bem... Eis que, em 1995, ele recebe um telefonema de Cezar, diretor de Relações Internacionais da MTV Brasil, pedindo para que desse uma força para um casal de amigos que estavam indo passar uns dias em Londres. Tratava-se, justamente, de Ronan e Syoung. O rapaz não sabia nada a respeito da banda, nem dos músicos, mas não tinha como dizer não à cúpula da MTV.

Nessa época, Barbieri estava ouvindo muito rock industrial. Em especial, uma banda alemã chamada Die Krupps. E a sonoridade começou a fazer a cabeça do casal. Um dos passeios que os três fizeram juntos foi conferir de perto algumas atrações em um clube chamado Slamelight. Uma casa bem underground, frequentada por punks e góticos que se achavam vampiros... A sonoridade? Rock industrial, é claro. Aqui no Brasil, pouco se falava sobre o gênero, mas EUA e Europa já começavam a se render ao fenômeno.

Todo esse cenário foi uma influência direta na construção da nova fase. Rodrigo seguiu na banda. O baixista Selvagem, que havia sofrido um grave acidente e estava fazendo vários shows sentado, pediu as contas e foi substituído pelo baixista Fred.  Alexandre Hercovitch e Rui Mendes foram contratados para ajudarem a criar a nova imagem do grupo. Completavam o novo time, o experiente tecladista Franco Junior (que já havia trabalhado com o Paulo Ricardo no início dos anos 90) e a dupla de percussionistas Black Angels. E assim, formava-se o time de Presets, o ultimo álbum do P.U.S. que chegaria às lojas em 1996.

Foto promocional da banda 

A banda continuava sendo uma banda de heavy metal, as influências de hardcore continuaram, as guitarras de Syoung continuavam sendo um destaque com riffs certeiros. O problema é que eles tiraram essa pegada mais extrema. Abandonaram as influências de death e thrash e trouxeram teclados, samplers e percussão afro-brasileira. Syoung começou a aparecer um pouco mais como cantora e Ronan mudou totalmente seu estilo. Os vocais guturais sumiram. Eu, particularmente, prefiro ele cantando limpo, mas claro que os fãs da época malharam os caras e os taxaram de vendidos, traidores e tudo mais.

“Presets” inicia o álbum já jogando todas as mudanças na cara. A percussão costurando o arranjo, as guitarras distorcidas, os teclados, as vozes mesclando o vocal de Ronan com os vocais de Syang... Essa foi uma das 2 contribuições de Barbieri como letrista. “Seu Verino” foi o single do álbum com direito a clipe e tudo mais. A música tinha uma pegada mais comercial e é meio que uma homenagem ao Selvagem. “Unreal” trazia os músicos entrando de cabeça na sonoridade eletrônica, com Syang cantando de modo sensual com direito à gemidos e sussurros. Essa trinca inicial é muito boa e mostrava o grupo no auge da criatividade.

A maior polêmica do álbum vem a seguir. Os músicos regravaram “Mosh”, uma musica de seu primeiro registro, só que usando essa sonoridade mais moderna. Os fãs ficaram putos, mas a real é que ficou bem interessante. “If” dá uma derrubada no andamento, mas mantém a qualidade das composições. Em “Via Adultera”, o nível das composições cai. “I See It All” também não ajuda muito. Ainda que goste da ideia de ter Ronan e Syang dobrando as vozes, acho a composição sem sal. São canções que dão a impressão que a intenção foi boa, mas ficou faltando alguma coisa.

“Desempregado” é mais uma volta ao passado. É uma musica do Detrito Federal, banda que a Syoung tocava antes de se aventurar como guitarrista do P.U.S. Os backings são repletos de participações especiais como Digão (Raimundos), Laura Finnochiaro e até mesmo Kiko Zambianchi. Musica mediana apenas, mas a audição é, no mínimo, curiosa. “Hopeless Man”, mais uma contribuição de Barbieri, chega diminuindo o andamento mais uma vez, só que voltando a inspiração lá para cima. “Asma” fecha a parte de composições inéditas e também é bem legalzinha. Acredito que seja a que apresenta sonoridade mais direta dentre as faixas do álbum. Bem, ela e “Severino”.

Fita K7 promocional com canções que iriam para o album

No final do disco, temos 3 remixes. 2 da faixa “Unreal”, que são dispensáveis, e 1 da faixa “Desempregado”, que é muito bom. Honestamente, achei que tem mais a ver com o clima do álbum e ficou mais instigante do que a versão escolhida para integrar o tracklist. Arranjo bem mais inspirado. Essa deveria ser a versão oficial, na minha opinião. Outra curiosidade é que esse álbum trazia um CD-Rom, onde podíamos assistir ao clipe de “Seu Verino”, que fez bastante sucesso na MTV, na época. A qualidade de imagem era regular, mas a intenção era boa e o clipe, apesar de contar com uma produção bem simples, era divertido.

Claro que o álbum tem alguns deslizes, como mencionados no texto, mas a verdade é que sua audição é bem interessante. Trata-se de um trabalho inteligente, diferente, ousado, corajoso, muito bem feito e que mereceria uma atenção maior. Infelizmente, esse foi o trabalho que acabou com a trajetória da banda. O grupo não aguentou a pressão e encerrou as atividades pouco depois. Realmente, uma pena! Da galera que tocava na banda, somente a guitarrista Syoung, conseguiu um momento de destaque na mídia ao trocar seu nome para Syang e apostar em trabalhos mais populares. No momento, ela vive nos arredores de Los Angeles e dá aula de jiu-jitsu por lá. É galera, esses tempos não voltam mais. Infelizmente...

domingo, 22 de julho de 2018

Dead Daisies – Burn It Down (2018):




Por Davi Pascale

A Ressureição do Rock

Supergroup chega ao seu quarto álbum de inéditas. Burn It Down mostra banda pegando fogo e entrega um hard rock enérgico e inspirado. Os caras fizeram fácil, fácil, um dos melhores álbuns de 2018.

O Dead Daisies nasceu em 2012 da mente do guitarrista David Lowy. Muitos dizem que se você não acontecer até os 20 e poucos, você deve buscar outra profissão. Lowy está aí para provar o contrário. O rapaz é um empresário de sucesso e resolveu viver seu sonho de rockstar após sua aposentadoria. Atualmente, com 63 anos nas costas, ele é a mente por trás de um dos supergroups mais falados do momento.

Já tem um tempo que a ideia de uma banda formada única e exclusivamente por rockstars deixou de ser novidade. Há quem diga que se tornou uma jogada de marketing e que essas bandas são criadas já com prazo para terminar. Polêmicas à parte, a grande verdade é que esses projetos (ou bandas, em alguns casos) são extremamente empolgantes, além de serem divertidos. E existe mais um ponto a favor, como esses caras já são músicos tarimbados, muito dificilmente você encontrará algo meia boca. Primeiro, porque eles têm uma reputação a zelar, depois pelo conhecimento acumulado em décadas de estrada. Tudo fica ainda mais bacana, quando os músicos reencontram o tesão pela profissão. Em pouco mais de 5 anos, os caras já soltaram 4 álbuns de estúdio e um ao vivo. Não é pouca coisa!

Durante esses anos, vários grandes nomes do rock passaram pela banda. Entre eles; Darryl Jones (The Rolling Stones), John Tempesta (The Cult), Jon Stevens (INXS) e Dizzy Reed (Guns n´ Roses). A formação atual inclui: Marco Mendoza (Thin Lizzy, Blue Murder), Doug Aldrich (Whitesnake, Dio), Deen Castronovo (Ozzy Osbourne, Journey) e John Corabi (Motley Crue, Union). Verdade seja dita, os caras encontraram a fórmula.



O primeiro álbum foi bacana, mas longe de ser algo empolgante. Depois da entrada de John Corabi, a banda ganhou um novo gás. Ficaram mais pesados, a sonoridade ganhou personalidade e as composições amadureceram. Revolución e Make Some Noise foram dois grandes álbuns. E o novo disco chega para manter o alto padrão.

Infelizmente, o rock n roll não atravessa um momento de renovação, com artistas surgindo com pé na porta, dominando as paradas de sucesso e estampando as capas de revista. Tanto aqui no Brasil, quanto nos Estados Unidos, o gênero parece estar cada vez mais afastado da grande mídia. Enquanto muitos comemoram a volta ao gueto, eu realmente lamento. Tal situação impede que se crie novos ícones, uma vez que os artistas não chegam ao grande público. É uma pena porque temos vários artistas que mereceriam estar no topo das paradas. Uma banda como o Dead Daisies sempre ajuda a dar uma mexida na cena e ajuda a provar que o rock n roll ainda tem muitos adeptos.  

Burn It Down aposta em um hard rock vigoroso, com altas influências de anos 70, mas ainda assim com uma mixagem moderna e identidade própria. Make Some Noise já era mais pesado do que o Revolución e aqui a sujeira ganha mais uma dose extra. Algo já perceptível na faixa de abertura “Resurrected”. A faixa seguinte, “Rise Up”, mantém o peso e traz o ar de diversão no refrão. Deve funcionar bem ao vivo.

Embora façam um hard rock pesado, os músicos mantêm intacta o clima de festa que muitos sentem falta nos grupos atuais. Seja na construção dos refrãos melódicos, seja no clima de suas performances. Quem já teve a oportunidade de assistir os caras ao vivo, sabe que o show deles é uma verdadeira celebração. Os músicos interagem com a galera, tocam com uma puta energia, isso sem cantar na performance de seu baixista Marco Mendoza. Do nada, o cara sai fazendo caras e bocas, sai girando com o baixo. O show é altamente empolgante (sim, já tive a oportunidade de assisti-los).



“Burn In Down” começa a deixar as referências de 70´s mais escancaradas. A canção soa como um Whitesnake mais moderno. Desde seu começo bluesy até seu refrão explosivo. “Judgement Day” é outra que poderia ser gravada em um novo trabalho da trupe liderada pelo David Coverdale. Além de John Corabi com seus vocais potentes e resgados, outro músico que trouxe vida nova ao som do grupo foi Doug Aldrich. “What Goes Around” é uma ótima amostra do talento do garoto. Não apenas pelo timbre matador, quanto pelo ótimo solo de guitarra.

Uma das maneiras que os músicos encontraram para manter o ar de descontração nas suas apresentações é misturar originais com releituras de clássicos do rock. O mesmo acontece em seus álbuns de estúdio. Sempre tem um ou 2 covers marcando a presença. Aqui, temos duas. A primeira delas é “Bitch”, um clássico menor dos The Rolling Stones, lançada no clássico LP Sticky Fingers. Os músicos mantiveram o riff, mas aceleraram a música e criaram uma bateria mais pesadona. Ficou bem bacana.

“Set Me Free” é a balada do disco. Uma faixa com um ar meio Gov´t Mule, aquela balada meio blues-rock. John Corabi se sobressai cantando com alma. “Dead And Gone” traz os caras de volta ao rock n roll. O refrão remete um pouco às linhas vocais do Lynyrd Skynyrd. “Can´t Take It With You” foi uma das que menos me empolgaram nesse disco. Por outro lado, “Leave Me Alone”, é uma das melhores do novo álbum trazendo a sonoridade clássica do Dead Daisies. Ou seja, aquele hard pesado, mas com clima festivo, como já mencionei.

Se vocês leram com atenção repararam que eu disse que haviam 2 covers aqui, certo? Pois é isso mesmo, a edição lançada aqui no Brasil se encerra com uma versão matadora de “Revolution”. Sim, essa mesma. O famoso hit daqueles 4 garotos de Liverpool. A canção foi totalmente renovada. A linha vocal foi mantida, mas guitarra e bateria foram totalmente modificados. Não deixaram nem a famosa introdução. Corajoso, sem dúvidas, mas os caras se saíram bem. A versão ficou excelente.

Burn It Down consagra Doug Aldrich e John Corabi como diferencial dentro do talentoso grupo e mostra que a banda veio para ficar. Algo muito bacana é que, embora todos eles sejam donos de uma técnica de excelência, em nenhum momento colocam a técnica acima da melodia. Não se trata de um grupo exibicionista. O álbum também marca a estreia de Deen Castronovo no lugar de Brian Tichy. Honestamente, é difícil decidir quem toca mais. Sem reclamações. Para quem curte rock n roll com uma dose extra de peso, a audição é obrigatória. Ótimas canções, excelentes músicos, ótima qualidade de gravação. Até agora, um dos melhores discos que ouvi esse ano. Sem brincadeira.

Nota: 10,0 / 10,0

Faixas:
     01)   Resurrected
     02)   Rise Up
     03)   Burn It Down
     04)   Judgement Day
     05)   What Goes Around
     06)   Bitch
     07)   Set Me Free
     08)   Dead And Gone
     09)   Can´t Take It With You
     10)   Leave Me Alone
     11)   Revolution (Bonus Track)

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Angra – Omni (2018):




Por Davi Pascale

Despertando da Escuridão

Depois de passar por uma série de turbulências, o Angra firma uma nova formação e lança esse que é seu melhor trabalho desde Temple of Shadows. Contando com apenas Rafael Bittencourt da formação original, o grupo renasce das cinzas e inicia o terceiro capítulo de uma história que teve mais conquistas do que derrotas.

O Angra foi uma banda que já nasceu grande. Assim que lançaram seu debut, (o ótimo) Angel´s Cry, começaram a dar o que falar. Existia uma grande expectativa para saber o que estava aprontando a nova banda do Andre Matos. O heavy metal surgiu no Brasil nos anos 80 (sim, chegou com atraso por aqui) e na primeira leva de grupos era comum termos grandes instrumentistas, porém com vocalistas fracos e inglês macarrônico. Eram poucos os cantores que realmente faziam um grande trabalho. E André era um deles.

Fora o fato de ter uma extensão vocal maior do que os demais de sua geração, Andre tinha mais um ponto a seu favor. O músico optou por sair do Viper, logo após terem lançado (o ótimo) Theatre of Fate, alegando que queria aprofundar seus estudos no campo da música e acabou se formando em composição e regência. E foi com essa bagagem que ele chegou ao Angra. Como alguém que já havia gravado álbuns de destaque, alguém que já tinha prestígio e, agora, alguém com formação acadêmica.

Essa primeira geração ficou marcada por lançar grandes músicos no cenário (Rafael, Kiko, Luis e Ricardo se tornaram referência rapidamente) e por lançar dois trabalhos que hoje são considerados clássicos do gênero: Holy Land e o já citado Angel´s Cry. Essa primeira formação implodiu por possuírem visões empresariais distintas. Andre Matos, Luis Mariutti e Ricardo Confessori fundaram o Shaman. Rafel Bittencourt e Kiko Loureiro criaram a segunda encarnação do Angra efetivando Felipe Andreoli e Aquiles Priester (que haviam gravado um álbum ao lado do ex-Iron Maiden, Paul Di´Anno) para a cozinha. Para assumir o lugar de Andre veio Edu Falaschi, que na época se destacava com a banda Symbols. Uma das principais apostas daquela nova geração.

Edu teve que segurar a bronca. A cobrança era alta e o papel a desempenhar não era fácil. Andre Matos se consagrava como o melhor cantor de heavy metal do país. As músicas eram muito altas e embora seja também um excelente cantor, a região natural do Edu era mais baixa. Começou uma discussão entre os fãs, que dura até os dias de hoje, se a escolha havia sido correta. Independente de discussão, Edu conseguiu criar sua leva de seguidores e gravou dois grandes álbuns ao lado dos garotos: Rebirth e Temple of Shadows.



Da lá para cá, muito pedra rolou. Confessori voltou para gravar o Aqua, Fabio Lione assumiu os vocais e Kiko Loureiro foi efetivado no Megadeth. Agora, os músicos querem emplacar a terceira geração do Angra. Marcelo Barbosa (ex-companheiro de Edu no Almah) assume as guitarras de Kiko. Bruno Valverde e o ex-Rhapsody Fabio Lione, firmam sua posição de baterista e vocalista da banda. E é nesse cenário que chega o álbum Omni.

Contando com a produção do sueco Jens Bogren (Symphony X, James La Brie, Sepultura), a banda conta com uma sonoridade mais sombria, mais pesada, porém extremamente bem definida. Trata-se de um álbum conceitual. A história é uma ficção. A ideia geral é que em 2046 as pessoas do presente e do futuro irão se corresponder umas com as outras, por conta da percepção cognitiva alterada por uma inteligência artificial. Interessante...

É comum os trabalhos do Angra iniciarem com alguma introdução preparando o território para o que viria a ser a primeira faixa de fato. Aqui, fazem diferente. O CD já abre de cara com “Light Of Transcendence”. Faixa power metal típica que traz um refrão pegajoso, no melhor sentido da expressão. Uma espécie de “Nova Era Pt 2”. O alto nível segue em “Travelers of Time”, música que inicia trazendo a velha mistura de ritmos brasileiros com metal, antes de entrar em uma pegada mais progressiva. O refrão remete bastante ao Angra fase Andre Matos.

E eis que chegamos na polêmica “Black Widow´s Web”. A nova faixa de trabalho vem causando polêmica por conta da inusitada participação da cantora Sandy (sim, essa mesma que você está pensando). Os músicos decidiram que queriam 2 vozes femininas. Uma angelical, outra mais agressiva. Convidaram Alissa White-Gluz (The Agonist, Ach Enemy) para os vocais guturais e a filha do Xororó para a voz mais angelical. Embora não goste do trabalho da Sandy, acho muito chororô. A faixa não tem nada de comercial. Pelo contrário, é bem pesada. E a participação dela não dura mais do que alguns segundos. Boa música com destaque para o excelente solo de guitarra. E, não, a menina não comprometeu.

“Insania” retorna trazendo novamente a pegada power metal do início do disco. Mais uma vez contando com um forte refrão, a canção se destaca pela linha de baixo de Felipe Andreoli. “The Bottom Of My Soul” é uma balada sombria. Conta com bonitas orquestrações e um ótimo trabalho vocal de Rafael Bittencourt. Pouca gente comenta sobre ele cantando, mas sempre curti seu trabalho vocal. Já cheguei, inclusive, a ouvir uma versão de “Don´t Stop Believin´” (clássico do Journey) com ele quebrando tudo nos vocais. Espero que isso seja lançado algum dia... “Warn Horns” mostra que Fabio Lione está mais à vontade na banda. Ele que havia feito um trabalho bem sutil em Secret Garden, resolveu botar as asinhas de fora no novo disco. Também vale destacar o criativo solo de Kiko Loureiro.



Embora não seja uma obrigatoriedade, o fato de misturar elementos de ritmos brasileiros dentro do power metal progressivo realizado pelo Angra, algo que fazem desde “Never Understand”, se tornou uma marca registrada do grupo. E a brincadeira volta a aparecer com força em “Caveman”, onde, inclusive, misturam inglês e português.

“Magic Mirror” é um dos grandes destaques do novo álbum. Contando com um refrão forte e uma boa linha de baixo de Andreoli, a música se destaca por sua passagem progressiva. Bruno Valverde também faz um belo trabalho. “Always More” é mais uma balada. Dessa vez, com arranjo mais suave e trazendo Lione nos vocais. Achei a composição mais fraca e, de certa forma, deslocada do restante do material. “Silence Inside” traz uma forte veia progressiva novamente, com Rafael e Fabio dividindo os vocais e atinge um bom resultado. “Infinite Nothing” encerra o álbum em grande estilo contando como uma sonoridade mais cinematográfica.

A escolha de Marcelo Barbosa e Bruno Valverde foram acertadas. Os dois desempenharam muito bem suas funções e mantiveram as características que seus fãs esperam. Fabio Lione é, sem dúvidas, um grande cantor e um dos destaques da cena power metal. Contudo, tenho certeza que parte dos fãs continuarão reclamando da escolha do substituto. Embora tenha uma ótima técnica vocal e um timbre de voz que casa com a sonoridade explorada pela banda, o cantor não tem domínio da técnica de falsete, o que dificulta para cantar o repertório da primeira fase. Algo que ficou perceptível na recente apresentação que assisti do conjunto.

De todo modo, Omni é o início de uma nova fase e deve agradar aos fãs. Continuam apostando nos elementos do rock progressivo, nas orquestrações, na sonoridade speed/power metal. As letras continuam bem elaboradas. E as composições são muito boas. Um retorno à sua boa forma depois de três trabalhos que foram apenas regulares. Muito bacana ver o grupo retornando com tudo e calando a boca dos pessimistas que torciam contra. Bem-vindos de volta ao topo!

Nota: 8,0 / 10,0

Faixas:
      01)   Light Of Transcendence
      02)   Travelers of Time
      03)   Black Widow´s Web
      04)   Insania
      05)   The Bottom of My Soul
      06)   War Horns
      07)   Caveman
      08)   Magic Mirror
      09)   Always More
      10)   Omni: Silence Inside
      11)   Omni: Infinite Nothing

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Humberto Gessinger – Ao Vivo Pra Caramba (2018):




Por Davi Pascale

Líder do Engenheiros do Hawaii lança novo DVD ao vivo. Trabalho resgata álbum clássico de sua ex-banda, ao mesmo tempo em que demonstra pé no presente. Fãs do cantor ficarão satisfeitos com novo registro.

Uma das características de Humberto Gessinger é sempre inovar. Não é todo mundo que curte a ideia, mas o rapaz não é daqueles que passa o tempo todo tocando a mesma coisa do mesmo jeito. Há sempre uma novidade. Nem que seja uma nova formação ou novos arranjos.

Aqui, temos as duas realidades. Humberto sobe ao palco acompanhado do baterista Rafael Bisogno e do guitarrista Felipe Rotta. Ainda que resgate seus tempos de power trio, isso não significa que esteja recorrendo aos velhos arranjos. Não se trata de reviver um tempo que ficou para trás, mas de mostrar à uma nova geração um material que venceu a barreira do tempo.

A Revolta dos Dândis trouxe várias mudanças na carreira do Engenheiros. Consagrou o formato power trio, colocou Gessinger na posição de baixista, apresentou o cultuado Augusto Licks, além de contar com algumas de suas músicas mais famosas. Quem viveu a época de ouro irá se lembrar de canções como “Infinita Highway” ou “Refrão de Bolero” sendo tocadas à exaustão nas rádios Brasil afora.

Humberto em ação

Os lançamentos do Engenheiros ficaram marcados, nessa primeira fase, por quase sempre ter uma cor predominante na capa. Em Várias Variáveis era o verde, em Gessinger, Licks &Maltz era o azul, em Ouça O Que Eu Digo, Não Ouça Ninguém, o vermelho, já nesse álbum era o amarelo. E isso foi predominante para a criação do cenário, do merchandising e até pela escolha dos instrumentos. Tudo predominando a cor amarela.

A turnê fez sucesso. No primeiro momento do show, o músico resgata o álbum na íntegra. Traz novas leituras para velhas ideias. Algumas músicas foram casadas com outras. Caso dos hits “Refrão de Bolero” e “Terra de Gigantes”. Embora tenha recorrido power trio, Humberto não deixou de dar seguimento ao formato de show que vem realizando nos últimos anos. Com uma pegada, muitas vezes, mais acústica e passando por uma infinidade de instrumentos. Se há algo que remeta aos velhos tempos é sua voz que segue intacta.

Interessante notar que não apenas clássicos como “Infinita Highway” ou “Revolta Dos Dândis” levantaram o público, mas também alguns lados B. Por algumas vezes, lado Z, caso de “Guardas da Fronteira”. Interessante ver uma nova geração cantando os versos ‘além do mito que limita o infinito’. Quem diria?

A segunda parte do show é quando Humberto resgata canções de seus outros álbuns. Essa parte mudava a cada apresentação. Quando foi anunciado o DVD, fiquei bem curioso para saber o que escolheria para a gravação, mas o músico fez diferente. Essa parte praticamente caiu fora do vídeo. Foi criada uma segunda parte, predominando a sonoridade acústica, com os músicos tocando ao vivo em estúdio. Só nos minutos finais é que volta o show.

Primeira tiragem autografada

Algo interessante para os antigos fãs é a participação especial do antigo baterista, Carlos Maltz. Infelizmente, não atrás de uma bateria como gostaria de ver, mas dividindo os vocais com seu velho amigo em “Filmes de Guerra, Canções de Amor”. Legal ter participado do projeto. Lembro que assisti as gravações do álbum 10.000 Destinos e Maltz também participou do show, mas por alguma razão sua performance foi eliminada do vídeo. Lembro que fiquei triste na época...

A nova formação está bem entrosada. Humberto é um bom músico. Seguro e carismático. Quem é fã do Engenheiros, certamente irá gostar do novo vídeo. Quem nunca se ligou muito, recomendo assistir antes ao Acústico MTV e dar uma escutada nos álbuns clássicos (ou seja, de Longe Demais das Capitais à Simples de Coração). Eu sempre fui fã e fiquei bem satisfeito com o resultado final. DVD legal pra caramba...

Nota: 8,0

Faixas:
      01)   A Revolta Dos Dândis I
      02)   Infinita Highway + Até O Fim
      03)   Quem Tem Pressa Não Se Interessa
      04)   Vozes + Terra de Gigantes
      05)   Desde Aquele Dia
      06)   Além Dos Outdoors
      07)   Guardas da Fronteira
      08)   Refrão de Bolero + Piano Bar
      09)   Filmes de Guerra, Canções de Amor
      10)   A Revolta dos Dândis II
      11)   Das Tripas Coração
      12)   Pra Caramba
      13)   Saudade Zero
      14)   Cadê
      15)   Pose
      16)   Faz Parte + Vida Real
      17)   Alexandria

sábado, 28 de abril de 2018

Quarto Crescente - Quarto Crescente (1981):



Por Davi Pascale
Texto publicado originalmente no site Consultoria do Rock
Um dos grandes baratos de colecionar discos, pesquisar sobre os artistas que acompanhamos, é justamente ter a chance de descobrir trabalhos muito bacanas, mas que nunca tiveram a atenção que mereciam. E um dos grandes baratos de publicar um texto (seja em uma revista, em um jornal ou em um site especializado como esse) é justamente poder compartilhar essas informações com a nova geração.
O Quarto Crescente nunca foi uma banda de sucesso, mas contou com músicos de sucesso em sua formação. Babalu, nome artístico de Antonio Medeiros Junior, também conhecido como Tony Babalu, chegou a gravar diversos álbuns com o cultuadíssimo Made in Brazil. Percy Weiss foi o homem de frente em bandas como Chave do Sol, Patrulha do Espaço e o próprio Made. Inclusive, era o vocalista que eu mais gostava entre todos que fizeram parte da banda. Infelizmente, nunca tive a chance de assisti-lo ao vivo. Uma pena…
O álbum, contudo, nasceu do desejo do baterista Horácio Malanconi Neto, ou simplesmente Horacio, de gravar um disco. Inicialmente, os garotos que começaram como uma banda de bar, utilizavam o nome de Cadela, mas quando decidiram que iriam levar adiante a decisão de gravar um LP, optaram por colocar um nome melhor. Os meninos lembraram que Percy, no início dos anos 70, havia cantando em um grupo que tinha o nome de Quarto Crescente e perguntaram ao cantor se poderiam utilizar o nome, já que a banda não existia mais. O cantor autorizou e a partir de então nasce o novo Quarto Crescente. Mais uma vez, com Percy.

Contracapa do LP
O LP, como acontece com grande parte da cena independente desse país, foi gravado em tempo recorde. Uma semana para gravar, mixar e masterizar o álbum. A produção do disco e a direção dos arranjos são dos próprios músicos. Uma historia comum em nosso país. Conheço banda que gravou todo um álbum em uma única tarde, mas aos poucos vamos revelando essas histórias por aqui…
Percy já era um nome muito conhecido entre os rockers do país. Um ano antes, havia gravado o álbum preto da Patrulha do Espaço. Já havia ocorrido também sua primeira passagem no conjunto dos irmãos Vecchione, onde havia realizado os registros de Jack, o Estripador e Massacre (álbum que foi abandonado por conta da perseguição da censura e só chegou às lojas em 2005 em CD e 2015 em LP). Portanto, já tinha bastante experiência. O trabalho vocal que realiza aqui é bem seguro e extremamente satisfatório.
O Lado A começa calmo com “Bicicleta”, uma boa canção envolvida de uma bela levada de blues. “Serra Pelada” vem na sequência apostando em uma pegada mais country rock. “Ave Noturna” é a grande faixa do primeiro lado. Bem rock n roll. Lembra bastante o som realizado pela turma da Pompeia.  Cabe aqui uma explicação. Existe uma polêmica com essa faixa por conta de uma semelhança com “Me Faça Sonhar”, presente no álbum Minha Vida É o Rock n Roll. Muitos questionam quem plagiou quem. Na verdade, ninguém plagiou ninguém. Pouco antes da separação, Percy e Oswaldo haviam começado a trabalhar uma música juntos que ficou inacabada. E os dois tiveram a ideia de terminar a faixa inacabada para o projeto que estavam desenvolvendo. Daí, a semelhança e a aparição de algumas frases em comum. O primeiro lado encerra-se com um divertido medley intitulado Jovem Guarda, onde eles lembram um pouquinho do popular movimento musical que dominou as paradas de sucesso na década de 60.

Percy com o Made In Brazil
Antes de comentarmos o lado B, cabe mais uma explicação. Além de Babalu, Horácio e Percy, fazia parte da trupe o baixista Tigueis. Muita gente confunde achando que se trata de Luiz Domingues, também conhecido como Luiz Tigueis, dono das 4 cordas da Chave do Sol. Na verdade, trata-se de outro rapaz. Esse aqui, atende pelo nome de Antonio Carlos Lopes e é conhecido por seu trabalho de luthier e seu registro ao lado do grupo Cão Fila. Sim, existem 2 baixistas chamados Tigueis no Brasil.
O lado B começa com “Mercado Modelo”, outro rock n roll bem pra cima. Na minha opinião, um dos grandes momentos do disco. Assim como a bela balada “Boa Garota” que vem logo na sequencia. Segundo indica, essa era a faixa favorita do falecido cantor. “Regue Fajuto” conta com uma boa levada de baixo. “Fique Frio” resgata bem a sonoridade do Made (quem gosta da banda, tem de tudo para curtir esse som), mas é em “Triste Cidade” que o LP volta a pegar fogo. Eles terminaram o disco do mesmo jeito que começaram. Ou seja, mais uma canção calcada no velho blues.
A sonoridade do álbum é tão crua quanto a sonoridade da banda. Nada de mega-produções, efeitos, nada do tipo. Apenas 4 garotos fazendo um som honesto com bastante garra. Há a participação de alguns amigos músicos fazendo percussão, gaita, flauta, mas nada além disso. Infelizmente, esse disco não é muito fácil de se conseguir, mas quando encontrar um por aí, se você for um amante do rock setentista produzido no Brasil, não deixe de pegar. (Embora já tenha sido lançado na década seguinte, a pegada é exatamente esta). Eu consegui meu exemplar…
Lado A:
  • Bicicleta
  • Serra Pelada
  • Ave Noturna (Rock n Roll)
  • Jovem Guarda: Gênio / O Pica Pau / Parei Na Contra Mão / Rua Augusta / O Bom / Splish Splash ) / Você Me Acende
Lado B:
  • Mercado Modelo
  • Boa Garota
  • Regue Fajuto
  • Fique Frio
  • Triste Cidade

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Motorhead – What´s Words Worth: Recorded Live 1978 (2018):




Por Davi Pascale

Apresentação histórica do Motorhead chega ao Brasil pelo selo Hellion Records. Disco apresenta banda no início de carreira, pré-fama, com um som mais cadenciado do que estamos acostumados, mas honesto como sempre.

Quem é fã de Motorhead já perdeu as contas de quantas vezes ouviu a frase “We are Motorhead and we play rock n roll”. Essa frase nunca fez tanto sentido quanto no material em que ouvimos aqui. Esse registro em Londres, no inicinho de sua trajetória, mostra exatamente isso. Uma banda com uma pegada mais rock n roll, menos veloz.

Essa não é a primeira vez que esse registro chega às lojas. Esse álbum foi lançado pela primeira vez em 1983. Aquela velha história, a banda faz sucesso e os executivos começam a inventar trocentas modas para ganhar dinheiro em cima do artista. Nem sempre, eles erram, é verdade. Esse álbum mesmo é um acerto.

Curiosamente, o grupo não fez essa apresentação com o nome de Motorhead. No dia, por alguma razão qualquer, utilizaram o nome de Iron Fist  And The Hodes From Hell. O show ocorreu em 18 de Fevereiro de 1978 em Roundhouse, em Londres, e foi organizado pelo cantor Wilko Johnson. Além dos dois, também rolou um show de The Count Bishops no dia. Tratava-se de um evento beneficente criado com a intenção de arrecadar dinheiro para ajudar a preservar os manuscritos do poeta William Woldsworth.



Interessante notar que o som marcante do baixo de Lemmy Kilmister já estava ali. Aquele som repleto de distorção já estava marcando presença firme e forte. “Fast” Eddie Clark já debulhava na guitarra. Fazia uns solos bem legais. Phil “Animal” Taylor já segurava a bronca bem, mas como uma audição atenta é possível pegar umas atravessadas de tempo. Um exemplo seria no início de “Keep Us On The Road”, mas nada que tirasse o brilho da apresentação. Lemmy já trazia seu estilo característico de cantar. Em “The Watcher” a voz não estava tão legal. A partir de “Iron Horse/Born To Lose” já normaliza. Devia estar nervoso…

A qualidade de gravação é muito boa. Nem parece que esse material já tem 40 anos. Entretanto, vale ressaltar que esse CD não é recomendado para os novatos. Não há nenhum de seus clássicos. Há vários covers. Alguns registrados em On Parole, caso de “Leaving Here” (Eddie Holland), outros não, caso de “In Your Witch Doctor” (John Mayall). E quase sempre de canções não tão populares.

A versão de “Train Kept a Rollin” (Tiny Bradshaw) ficou bem bacana, bem enérgica, mas sou obrigado a confessar que ninguém conseguiu superar o Aerosmith nesse som.  O Motorhead sempre foi uma banda extremamente honesta em todos os sentidos. E a gravação segue esse princípio. O som é bem definido e, quase certeza que, sem overdubs. O show como aconteceu na lata.

Esse ano completa-se 4 décadas dessa apresentação. Portanto, sua reedição é realmente acertada. Se você é fã do trio e ainda não possui esse álbum, vale muito a pena pegar esse disco. Esquece e imagem da capa. Realmente, a capa não é das melhores. E alguns podem imaginar ser um bootleg. Não é! Pegue e divirta-se.

Nota: 8,0 / 10,0
Faixas:

      01)   The Watcher
      02)   Iron Horse / Born To Lose
      03)   On Parole
      04)   White Line Fever
      05)   Keep Us On The Road
      06)   Leaving Here
      07)   In Your Witch Doctor  
      08)   The Train Kept a Rollin´
      09)   City Kids

sábado, 31 de março de 2018

The Doors – Live At The Isle Of Wight Festival 1970 (2017):




Por Davi Pascale

Apresentação histórica do The Doors chega ao Brasil. Show apresenta Jim Morrison concentrado, sem muita empolgação, enquanto a banda demonstrava enorme entrosamento. Esse foi um dos últimos shows dos rapazes.

Os fãs de The Doors podem comemorar. Durante todos esses anos, poucos vídeos foram lançados e o único show na integra até então era o histórico – e emocionante – Hollywood Bowl. Depois, foram lançados vídeos bem bacanas mesclando performances de TV, clipes, entrevistas, mas os fãs continuavam na expectativa de assistir mais algum show dos rapazes da fase Morrison. Bem, agora podem.

É impossível não notar o contraste. A apresentação no Hollywood Bowl demonstrava lizard king magro, cheio de atitude, como quem acreditasse que seria capaz de mudar o mundo. A apresentação que chega agora traz o músico gordo, barbudo, totalmente concentrado, mas um tanto desanimado. Nenhuma provocação com o público, nenhum movimento incomum. Seguiu o script à risca. E, em se tratando de Morrison, isso era raro.

A razão é que o cantor estava para ser julgado e corria sério risco de prisão. A acusação era de que o rapaz teria exposto seu pênis durante um show do conjunto. Algo que nunca foi comprovado e sempre foi negado pelo cantor e por seus companheiros de banda. No documentário presente no extra (This is The End), uma imagem de arquivo do já falecido tecladista Ray Manzarek traz o musico explicando que pediu para que o roadie dele invadisse o palco e agarrasse Jim para que não cometesse tal loucura.



A qualidade de gravação é boa para os padrões em que foram gravados. Essas imagens são de 1970 e os músicos estavam se apresentando às 2 horas da manhã com uma baixa iluminação de palco. Mesmo assim, vale o achado por seu valor histórico. Além de ser o segundo vídeo ao vivo dos rapazes (com a formação clássica), esse é um dos últimos shows do The Doors com Jim. Após essa apresentação rolaram apenas mais 2 apresentações.

Curiosamente, o repertório não traz muitas músicas de Morrison Hotel e nem de The Soft Parade (esse, acho que não teve nenhuma). A base do set foi o debut de 1967 (sim, eles mudaram tanto assim em pouco mais de 3 anos...)

Não colocaria essa apresentação como uma de suas melhores. Tenho vários CD´s ao vivo dos rapazes (alguns, bootlegs, inclusive) e conheço performances muito mais inspiradas do que essa. O clima de tensão no palco era facilmente percebido. Entretanto, como todos eram grandes músicos, conseguiram deixar o show interessante. Sem contar que é sempre mágico ver Jim em ação. Algo, aliás, deve ser comentado. Apesar de estar meio decepcionado com tudo o que estava acontecendo, Morrison não avacalhou o show. Pelo contrário, cantou incrivelmente bem no dia.

Esse também foi o último show que os músicos filmaram. Portanto, por essas e por outras, diria que mesmo que seu líder não estivesse saltitante, esse é um filme obrigatório na coleção dos fãs da banda e dos amantes do rock clássico. Que venham mais lançamentos como esse por aí. Está cheio de show histórico perdido nos arquivos. Já passou da hora de resgatarem essas pérolas.

Nota: 10,0 / 10,0

Faixas:
     01)   Roadhouse Blues
     02)   Introduction
     03)   Back Door Man
     04)   Break On Through (To The Other Side)
     05)   When The Music´s Over
     06)   Ship Of Fools
     07)   Light My Fire
     08)   The End (Medley: Across The Sea / Away In India / Crossroads Blues / Wake Up)
Bonus Feature: “This Is The End” featurette