domingo, 26 de janeiro de 2014

Dinho Ouro Preto: Dinho Ouro Preto (1995)



Por Davi Pascale

No inicio dos anos 90, o vocalista Dinho Ouro Preto brigou com seus amigos do Capital Inicial e abandonou o barco. O motivo alegado foi o mesmo de sempre: divergências musicais. Como todos sabem, essa é apenas uma desculpa criada para não lavar roupa suja em publico. Todo artista que lança essa é porque não quer discutir o assunto com a mídia. Essa é a verdade. Enquanto não for publicada uma biografia sobre a banda, não saberemos a real. 

Tudo o que sabemos é que, nessa fase, o Capital fez dois álbuns sem o Dinho e o cantor fez dois álbuns sem a banda. O primeiro trabalho dele longe dos rapazes foi o Vertigo. Talvez o álbum mais pesado que já tenha lançado em sua carreira. E o segundo foi esse trabalho auto-intitulado que chegou às lojas em 1995. 

Lançado pelo extinto selo “Rock It” e tendo o ex-Legião, Dado Villa Lobos, como diretor musical, o vocalista não vivenciava uma fase muito boa. Longe dos seus dias de glória e mergulhado em ecstasy (conforme revelou em algumas entrevistas após seu retorno ao Capital em 1998), o rapaz voltou a se apresentar em lugares minúsculos e caiu no esquecimento. Estava cada vez mais distante do grande publico e da mídia. 

Para a realização deste trabalho, Dinho manteve os ex-Vertigo, Kuaker e Mingau (atualmente no Ultraje a Rigor), e adicionou à banda o baterista Alja. Se o disco anterior trazia como foque principal, guitarras cheias de distorção e músicas rápidas, esse por outro lado trazia um rock mais leve flertando com eletrônica. 

Existe um ponto em comum com o álbum anterior, contudo, os dois CD´s possuem músicas curtas e duram um pouco mais de 30 minutos cada. Entre os autores, além dos colegas de banda e da já esperada contribuição de Alvin L, também temos outros dois grandes nomes da cena BRock entregando canções inéditas: Roberto Frejat (Barão Vermelho) e Renato Russo (Legião Urbana). O disco conta ainda com uma releitura de “Castles Made of Sand” do guitarrista de Seattle, Jimi Hendrix. 


Renato Russo contribuiu com faixa inédita

O álbum começa com um clima soturno contando apenas com alguns efeitos sonoros, uma percussão de fundo e Dinho cantando quase como se estivesse falando. Aos poucos a música vai crescendo com os arranjos de teclado e o baixo marcando em determinados momentos. A letra acompanha esse clima tenso, quase sombrio, com versos como “eu achava que eu tinha o direito, orgulho com um ponto de exclamação”, “imaginava uma medalha no peito, em exemplo pra minha geração”. Os versos soam quase como um arrependimento. Será que ele tinha se arrependido de ter deixado o Capital? Tenho a impressão que sim...

Na sequência, a primeira música de trabalho, “Marcianos Invadem a Terra”, a composição até então inédita de Renato Russo. Os fãs da Legião só conheceriam essa faixa na voz do líder da Legião Urbana, no álbum póstumo “Uma Outra Estação”, lançado em 1997. Essa é a que mais se aproxima da sonoridade do Capital Inicial com uma roupagem mais direta, sem tantos experimentos. “Ácido” traz de volta a sonoridade “U2 Zooropa”, em um dos melhores momentos do CD. Depois de uma fraca versão de “Catles Made of Sand”, o rapaz volta à boa forma em “Ela Morde” e “Alguém Como Eu”, segunda e última música de trabalho do disco. 

“La Costa Del Creme” inicia a segunda parte com uma pegada totalmente tecno e com vocais cheios de efeito. Interessante, mas abaixo do nível. “Kuala Lumpur” é uma vinheta instrumental, um elo para a boa faixa “Storms”. Aqui, as guitarras voltam a aparecer em cheio em um interessante contraste com as batidas eletrônicas que permeiam a música. “Echo” deixa claro mais uma vez a influencia U2 anos 90, na marcação de baixo e programação de bateria que me remete muito à canção “Numb” do já citado Zooropa. Mais uma faixa contando com “sexo” como tema principal e mais um dos pontos baixos, na minha opinião. O CD fecha com “Ao Som de um Tambor”, uma boa parceria do ‘barão’ Roberto Frejat com a ‘sempre livre’ Dulce Quental. Uma balada pop rock. Aqui o eletrônico entra apenas costurando a canção que tem o violão como grande destaque. Ela me lembra um pouco a balada “Inverno” do álbum Vertigo. 


Cena do clipe "Alguém Como Eu"

Comprei esse CD na época em que foi lançado. Naquela ocasião, não compreendi muito bem. Tinha escutado o grupo tocando ao vivo em uma estação de rádio as faixas desse disco e os arranjos eram bem rock n roll, bem pesados. Quando ouvi esse trabalho flertando com a eletrônica, me confundi. Alguns anos depois, peguei esse trabalho para reescutar e acabei entendendo melhor. E para dizer a verdade não é tão distante assim de sua historia. O álbum “Eletricidade” do Capital já contava com alguns elementos eletrônicos de fundo. Aqui, a mistura ganhou apenas uma roupagem mais moderna. Se você curte aquela sonoridade que o grupo de Bono Vox apostou no inicio da década de 90 e que foi reproduzido posteriormente por grupos como The Cult e Simple Minds, ou até mesmo se você curte aquele som que apesar de ser um pouco mais pesado, mantém essa essência como Prodigy, Ministry ou até mesmo Nine Inch Nails, pode ser uma boa pedida . 

Pena que no Brasil exista a cultura mais do mesmo, ao contrario de outros países que esperam constante renovação de seus artistas. Porque se fosse o contrario, esse trabalho não teria passado batido. Bem gravado e fazendo um som que trazia o que estava rolando na gringa e ninguém fazia por aqui, Dinho Ouro Preto fez um trabalho maduro e à frente de seu tempo. Um trabalho que merece ser redescoberto pela nova geração! 

Tracklist:
01. Irresistível
02. Marcianos Invadem a Terra
03. Ácido
04. Castles Made of Sand
05. Ela Morde
06. Alguém Como Eu
07. La Costa Del Crime
08. Kuala Lumpur
09. Storms
10. Echo
11. Ao Som De Um Tambor