sábado, 1 de fevereiro de 2014

Barão Vermelho: Carnaval (1988)





Por Davi Pascale

Esse disco foi a virada para os rapazes do Barão Vermelho. E foi também quando eu descobri a banda. Depois de atingirem fama com o hit “Bete Balanço” na época de seu terceiro LP, Maior Abandonado, o cantor Cazuza abandonou o barco. Os trabalhos seguintes – Declare Guerra e Rock n Geral – não conseguiram grande destaque na mídia e os shows estavam cada vez mais escassos. Algo precisava ser feito. E foi!

Cazuza não era o único que tinha deixado o conjunto. Para dizer a verdade, os rapazes haviam se tornado um trio. Restavam apenas Roberto Frejat (guitarra e voz), Dé (baixo) e Guto Goffi (bateria). O conceito do disco nasceu da cabeça do baterista. Guto mostrou ao Frejat o que tinha em mente. Um poema, em especial, chamou a atenção: “Nosso carnaval será eternamente diário, Nossos sonhos e fantasias se tornarão, a cada dia, mais essenciais e mais reais”. O cantor captou e abraçou a ideia, e o projeto se concretizou. Essas frases foram tão marcantes, inclusive, que acabaram sendo impressas na contracapa do disco. 

Engana-se, quem acredita que Frejat e Cazuza tornaram-se inimigos por conta da saída do rapaz no auge do sucesso. Tanto eles ainda eram amigos, como o menino Agenor fez uma nova parceria com o musico para esse trabalho em especial, “Rock da Descerebração”. Entre as outras contribuições, estavam os titãs Arnaldo Antunes e Paulo Miklos, além do lider do Engenheiros do Hawaii, Humberto Gessinger.

Não se assustem com o titulo do vinil. Embora a festa de Carnaval seja muito popular em nosso país e os ritmos predominantes do evento sejam samba e axé, o Carnaval apresentado pelo Barão é bem rock n roll. O grupo continuava apostando em sua sonoridade que cruzava elementos do hard rock com o blues. As guitarras até ganharam uma distorçãozinha extra, se compararmos com os álbuns anteriores. Aproximava-se mais da sonoridade que tinham no palco, que logo em seguida seria devidamente retratada em um excelente disco ao vivo gravado no extinto Dama Xoc.

Musica em trilha de novela colocou o Barão de volta no mapa.

 O grande sucesso desse disco foi “Pense e Dance”. O primeiro hit da Era Frejat. A faixa que foi tema da novela Vale Tudo (Rede Globo), nasceu a partir de um riff criado por Dé. A canção que era para ter sido uma parceria entre o músico e Roberto Frejat, acabou recebendo algumas mudanças sugeridas por Guto Goffi. Principalmente nas letras. Foi dele a idéia de tirar a negatividade dos versos “Não penso como vai minha vida. Não alimento nenhum desejo”. Quem se lembra dessa musica, irá reparar que no estúdio foi registrado justamente o contrário: “Penso, como vai minha vida. Alimento, todos os desejos”. Foi dele também a ideia de inserir a frase-manifesto do Lobão “saudações a quem tem coragem”. O que surgiu de maneira inocente, tornou-se uma grande polêmica.

Os músicos haviam decidido colocar a citação até como uma homenagem ao cantor Lobão, artista que eles admiravam. O músico, entretanto, não entendeu como homenagem. Pelo contrario, o rapaz ficou puto e começou a acusá-los de plágio. Para sorte dos garotos do Barão, que estavam rezando para ganharem algum dinheiro novamente, o compositor resolveu deixar a birra de lado em nome da velha amizade e não seguiu adiante com os protestos.

Gravado em 45 dias no estúdio Nas Nuvens (Rio de Janeiro), o disco é um marco na história do Barão e, na minha opinião, um dos melhores álbuns de rock já produzidos em nosso país. Além de ser extremamente bem gravado, o disco chama atenção pela inteligência das letras e pelos ótimos arranjos. Perdi as contas de quantas vezes, em minha vida, escutei as faixas “Não Me Acabo”, “Lente”, “Quem Me Escuta”, além do grande hit, é claro, “Pense e Dance”. Quem não conhece, por favor, corra atrás. Diversão garantida.

Faixas:

      01)   Lente
      02)   Pense e Dance
      03)   Não Me Acabo
      04)   O Que Voce Faz A Noite
      05)   Nunca Existiu Pecado
      06)   Como Um Furacão
      07)   Quem Me Escuta
      08)   Selvagem
      09)   Carnaval
      10)   Rock da Descerebração