quarta-feira, 12 de março de 2014

Generation Swine: Os Dias Negros do Motley Crue




Por Davi Pascale 

Em 24 de Junho de 1997, chegava às lojas Generation Swine. O disco que todos acreditavam que iria colocar o Motley Crue de volta à mídia. O que ocorreu, no entanto, foi exatamente o oposto. Com esse trabalho, o grupo mais louco de L.A. sumiria de vez das paradas.

Muitos fatores contribuíram para isso. Para começar, a banda estava totalmente desunida. O retorno de Vince Neil não era unanimidade entre os músicos. O cantor, inclusive, demonstrava não estar totalmente à vontade com a idéia. Por que voltaram? Simples, não tinham alternativa. O disco feito com John Corabi, embora fosse genial, não havia obtido boa resposta do publico. A audiência dos shows caiu drasticamente, assim como as vendas de discos. A gravadora queria Neil de volta. O vocalista, embora ainda tivesse sérios problemas com Nikki Sixx, também não tinha muita escolha. Estava atravessando um momento extremamente delicado em sua vida. Sua filha de 4 anos havia morrido de câncer, sua esposa havia se divorciado dele, a banda que havia montado tinha terminado e estava cheio de dividas. Não era o momento ideal para ficarem com egos.

Para recuperarem seus dias de glória, precisavam fazer o melhor disco de suas vidas. E isso não rolou. Sem duvidas, é o mais fraco do Motley. Agora, verdade seja dita, não é tão ruim quanto pintam por aí. Não é um trabalho genial, mas também não é execrável. É razoável. Há alguns bons momentos como “Flush”, “Let Us Prey” e “A Rat Like Me”. A faixa de trabalho, “Afraid”, também não era ruim. O que acontece é que o que eles entregaram era muito pouco diante de toda a expectativa.

Capa do polêmico disco

 O último disco de inéditas com a formação clássica tinha sido “Dr Feelgood”, lançado em 1989. Com produção de Bob Rock (mais conhecido no Brasil por ter produzido o álbum preto do Metallica), o LP alcançou o primeiro lugar das paradas da Billboard, vendeu mais de 6.000.000 de cópias e emplacou alguns dos maiores sucessos do Motley como “Kickstart My Heart”, “Don´t Go Away Mad”, “Same Ol´ Situation”, além da faixa titulo. Por isso, todos apostavam tanto no retorno de Vince.

Agora... Vamos ser sinceros, o cantor é quem menos tem culpa nessa roubada. Tanto as composições quanto a co-produção de Generation Swine ficaram à cargo do baixista Nikki Sixx e do baterista Tommy Lee. O material começou a ser trabalhado, inclusive, com John Corabi. As demos chegaram a ser gravadas com os vocais dele. O rapaz foi dispensado da banda durante as gravações. É por essa razão que há duas faixas com co-autoria dele: a (boa) “Let Us Prey” e a (fraca) faixa-título. 

No livro “The Dirt”, inclusive, é mencionado que o cantor já havia percebido que Vince acabaria retornando à banda, mas que ele desejava poder continuar no conjunto fazendo segundo guitarra e vocais de apoio. Não sei o que os fãs mais doentes pensam disso, mas não acho a idéia má. Corabi é bom guitarrista, bom compositor e ótimo vocalista, poderia acrescentar bastante ao som do conjunto. O único problema seria lidar com os egos de Mick Mars já que Scott Humphrey, produtor do CD, já chegou a declarar publicamente que Mick fica seriamente transtornado com a idéia de ter outro musico acrescentando guitarras em alguma faixa do Motley.

Trabalho apostava em nova sonoridade e frustrou público

Vince Neil, além de todos os problemas citados, estava acima do peso. Muito provavelmente por estar bebendo em excesso. Scott declarou nesse mesmo livro que gravar Vince era difícil porque quando exagerava na bebida, o rapaz chegava ao ponto de não parar em pé. Sem contar que justamente por não estar 100% animado com o retorno, não estava fazendo muito esforço. Se tivesse que repetir muitos takes, saía andando no meio da gravação. Scott declara, aliás, que o único músico que chegava ao estúdio no horário combinado era Mick Mars, que os outros três chegavam com horas de atraso e tinham dias que não produziam nada.   

O resultado não poderia ser diferente. O disco soa desconexo. Há faixas que soam como Smashing Pupkins, há faixas que soam como Nine Inch Nails, há faixas onde as letras poderiam ter sido melhores lapidadas como “Find Myself”, responsável por abrir o CD. Essa, em especial, acho o arranjo interessante, mas a letra muito fraca. Havia ainda uma versão modernizada do clássico “Shout At The Devil”. Não ficou de todo mal, mas está há anos luz da versão original. Dispensável!

A indústria estava mudando e o Motley, mesmo já sendo uma banda madura, caiu na armadilha tentando adaptar seu som ao que estava rolando no mercado. Obviamente não deu certo. Não é a verdade deles. Sou a favor de mudanças, de experimentações, não sou daqueles que acredita que o artista tenha a necessidade de passar a vida inteira fazendo a mesma coisa. Mas acredito que você tenha que fazer algo em que você acredita. Se quer adicionar novas influencias, adicione daquilo que você está ouvindo no momento. Não acredito que os executivos consigam notar essa diferença – afinal, esses caras sempre foram mais ligados à grana do que à qualidade musical. Já em relação aos fãs, são os primeiros a notarem quando algo é forjado. Talvez por isso não tenha dado certo. A nova geração estava ligada em outros caras e seus antigos seguidores não acreditaram no projeto. 

O Motley Crue só retornaria ao estúdio três anos mais tarde para registrar (o bom) New Tattoo. Agora, grande disco mesmo, foi o Saint of Los Angeles, editado em 2008, mas esses são assuntos para outros posts...