terça-feira, 17 de março de 2015

Shining – One One One (2013)

Por Rafael Menegueti
Shining - One One One
O Shining é mais um bom exemplo de banda que mudou drasticamente seu estilo sem perder a qualidade. Esse grupo avant guarde norueguês (não confundir com a banda sueca de black metal de mesmo nome) surgiu como um promissor nome do nu jazz (ou future jazz), uma vertente do estilo onde as bandas usam uma sonoridade mais ousada e enérgica do que o jazz tradicional. Talvez por isso, muitos críticos musicais comparem esse estilo com o que o punk representou na cena do rock em seu surgimento.
Em seus primeiros dois álbuns (“Where the Ragged People Go” e “Sweet Shanghai Devil”), o Shining fazia um jazz acústico, sujo e complexo. A partir do terceiro álbum (“In the Kingdom of Kitsch You Will Be a Monster”) a banda passou a fazer uma transição para o rock. Trocaram o contrabaixo acústico por um baixo elétrico, foram incluindo sintetizadores, e as guitarras ganharam distorção, se intercalando com o saxofone selvagem nas canções. A fusão de estilos virou seu maior trunfo. Em “Grindstone” ela foi ainda mais explorada. A aproximação do metal veio no quinto álbum, “Blackjazz”.
O Shining durante show em 2014
O curioso é que, mesmo com a mudança, a banda seguiu conceituada e elogiada inclusive pelo público e crítica especializados em jazz. Essa aproximação do metal ficou ainda mais forte graças a uma bem sucedida turnê abrindo para a banda de viking/black metal norueguesa Enslaved. O sucesso da turnê foi tamanho, que as duas bandas foram convidadas pelo festival Moldejazz a realizarem um concerto juntas, em 2008.
Em 2013, a banda lançou “One One One”, disco onde eles abraçam de vez o metal. Foi assistindo a um show da turnê de divulgação desse disco em dezembro passado (curiosamente abrindo para Arch Enemy e Kreator em Londres) que conheci essa banda (eles ainda sairão em turnê abrindo para o Devin Townsend na Europa esse ano). E o disco me deixou com a mesma sensação que tive ao ver o show. O vocalista e líder da banda, Jørgen Munkeby, é um showman. Seus vocais são agressivos e intensos, e ele toca guitarra com uma pegada forte e raivosa. Logo ele saca o saxofone e cria uma atmosférica enérgica, caótica nas canções.
O vocalista/guitarrista/saxofonista Jørgen Munkeby
O fato é que o Shining conseguiu unir metal e jazz de maneira inovadora. Por vezes eles parecem próximos de um metal industrial, como na empolgante faixa “The One Inside”. A união com o jazz é bem clara em canções como “How Your Story Ends” e “Walk Away”. Por todo o disco essa ideia de um som meio improvisado, agitado, com sonoridade complexa e pesada, típica de músicos que tiveram essa formação no jazz, onde o improviso é elemento básico, deixa o ouvinte meio atônito. A faixa que abre o disco, “I Won´t Forget” é uma das melhores. “My Dying Drive” é outra faixa que se destaca pela pegada. Veloz e incrivelmente agressiva, “Blackjazz Rebels” é uma das melhores do disco. Pra fechar um disco que é uma pancada do inicio ao fim, “Paint the Sky Black” vem como uma das mais pesadas. Alias, difícil mesmo é saber qual das nove canções do álbum é a mais brutal. O que me leva a pensar que talvez o único problema desse disco seja a semelhança entre as músicas. Mas as faixas transitam bem, e o disco corre rápido e sem enjoar.
Bom mesmo é saber que na Europa um grupo como esse consegue transitar por estilos tão distintos (metal extremo e jazz) de maneira tão coesa e inovadora e sem ser massacrada por público e crítica. A banda segue sendo abraçada pelos fãs e pelas duas vertentes como um todo, inclusive pela crítica especializada. Falta um pouco mais de flexibilidade e entendimento de como a música pode funcionar nessas ousadas e interessantes ideias de fusões de estilo para algumas pessoas, que insistem em achar que o rock deve sempre seguir a velha forma básica do que sempre vem sendo mostrado. Melhor abrir a cabeça e ouvir bandas como o Shining, que são provas de que essas inovações são o futuro e sobrevivência do rock.


Nota: 8,5/10
Status: Inovador e agressivo

Faixas:
01. I Won't Forget
02. The One Inside
03. My Dying Drive
04. Off The Hook
05. Blackjazz Rebels
06. How Your Story Ends
07. The Hurting Game
08. Walk Away
09. Paint The Sky Black