quinta-feira, 9 de abril de 2015

Chorão: O Errado Que Deu Certo



Por Davi Pascale

Alexandre Magno Abrão, caso estivesse vivo, estaria completando hoje 45 anos. Metade de sua vida passou ao lado do grupo santista Charlie Brown Jr, considerado um dos grandes destaques da cena brasileira dos anos 90. Pelo menos para mim, poucos grupos chamaram atenção nesse período. E eles foram um deles. E não há como negar... o cara foi a alma do grupo.
Como um bom rockstar, nunca foi unânime e nem queridinho da mídia. Aliás, essa é uma das diferenças que tenho com boa parte dos colegas de profissão. Grande parte daquilo que é considerado genial pelos meus colegas, considero uma tortura. E esse problema de reconhecer as qualidades de um artista mais popular nunca tive. Nunca entendi essa teoria de que artista que faz sucesso não pode ser levado a sério. Sempre preferi RPM ao Fellini, Raimundos ao Acabou La Tequila. Nunca duvidei da qualidade do Charlie Brown.
Chorão tinha muitas qualidades que faltam para artistas considerados mais sérios. Tinha um grande carisma, seus shows podiam chegar à 3 horas e ele mantinha o público na palma da mão todo o tempo. Era um personagem interessante. O fato de falar o que acreditava, ajudava nisso.  Polêmica sempre vendeu, não é segredo, mas é um terreno perigoso. O problema é conseguir causar polêmica sem perder a credibilidade entre seus admiradores. E o cara conseguia isso. Tinha ainda o lado letrista também. A linguagem malandra, adquirida em seus tempos de skatista, ajudava a manter o frescor do grupo. Nem infantil, nem intelectual. Dava aquele ar de atitude que é esperado dentro do rock n´ roll e ajudava a construir a identidade do grupo.
Quem desmerece sua trajetória, gosta de dizer que o Charlie Brown foi jogada de gravadora. Acho difícil acreditar. A banda não surgiu da noite para o dia e seu início não foi muito glorioso. Os caras penaram para conseguirem seu espaço. Transpiração Contínua Prolongada, seu debut, só foi lançado em 1997, a banda já tocava na noite há pelos menos 5 anos. Pode ser pouco em comparação à que outros grupos ralaram, mas é muito para quem está em uma jogada unicamente por dinheiro. Se não vira em 1 ou 2 anos, partem pra outra. E não caíram no gosto logo de cara. Assisti eles pela primeira vez, ainda em 97, abrindo o show do Offspring no Olympia. Foi uma das 3 vezes que vi uma banda iniciante ser vaiada em numero de abertura. Não contentes com as vaias, o público arremessava objetos em direção aos músicos. E das 3, foi a única que não desistiu e conseguiu driblar a história. Tudo bem, o cara não era santo. Teve alguma atitudes questionáveis (como a polêmica briga com Marcelo Camelo), mas tinha seu valor. 


Cantor tinha domínio do público
Chorão era irrequieto. Estava sempre envolvido em alguma coisa. Mesmo nunca tendo dado um grande distância entre um disco e outro, o cara ainda arrumava tempo para fundar um espaço para skatistas (Chorão Skate Park), trabalhar nos DVD´s do grupo, nos clipes e até mesmo na produção de um filme: O Magnata. O longa não fez muito sucesso, mas era a cara dele. Misturava sexo, drogas, rock n roll. Apresentava uma linguagem direta, sem ficar medindo muitas palavras. Não era filme para agradar crítico de cinema, nem para assistir ao lado de seus pais.
Se já não era muito querido pelos críticos no auge, quando passavam por momentos delicados então o ataque era total. O cantor foi o único que nunca saiu do grupo. Ele e o baixista Champignon, coincidentemente os dois que nos deixaram, foram os que sofreram os ataques mais pesados quando ocorreu a separação da banda após o bem sucedido Tamo Aí Na Atividade. Confusão até hoje não explicada para seus fãs. O ataque em cima de Chorão era esperado. Afinal, os 3 saíram juntos e ele ficou sozinho. Não tinha como a história ser diferente.
Infelizmente, em 6 de Março de 2013, o rock brasileiro que já não ia muito bem, ficou mais pobre. Alexandre Magno Abrão foi encontrado morto em um apartamento bagunçado, aos 42 anos, vítima de uma overdose de cocaína. A juventude perdia um ídolo e o rock perdia um dos poucos grupos realmente interessantes que surgiu nos últimos anos. Faz falta!