quinta-feira, 23 de abril de 2015

Yesterday and Today: A capa censurada dos Beatles



Por Davi Pascale

Estamos atravessando um momento bastante polêmico. Há quem diga que o nosso governo esteja planejando um controle maior da internet com muitas ações que podem ser consideradas censura. Discussões políticas à parte, a verdade é que nosso amado rock n roll já sofre com esse tipo de situação há um bom tempo. Há algum tempo atrás, escrevi um artigo sobre a criação do selo Parental Advisory que servia para alertar os pais sobre o conteúdo das letras nos discos. Assim, poderiam optar se queriam ou não que seus filhos levassem o disco para casa. Mas não apenas as letras eram controladas como muitas capas foram censuradas. Jimi Hendrix, Pantera, Dream Theater, Bon Jovi, Scorpions, Guns n Roses, são apenas alguns dos inúmeros músicos que tiveram arte censurada. Hoje, algumas voltaram para o mercado e são consideradas clássicas. Outras, se tornaram item de colecionador e os discos com as artes originais custam pequenas fortunas. A dos Beatles, que escolhi para falar hoje, é um desses exemplos.

Em 25 de Maio de 1966, os rapazes de Liverpool fizeram um ensaio fotográfico com Bob Whitaker. O rapaz era um fotografo australiano que estava acostumado a fazer fotografias nada usuais. Cansados de fazer retratos sempre com a mesma proposta, os garotos toparam a brincadeira. Uma dessas imagens foi escolhida posteriormente para o lançamento de Yesterday and Today, mais um dos álbuns prensados exclusivamente nos Estados Unidos. Naquela época, os discos lançados nos Estados Unidos eram diferentes dos ingleses, misturando canções de 2 discos e, por vezes, musicas dos compactos. Ainda que não fossem os únicos a sofrerem com isso (outros artistas como Rolling Stones e The Hollies passavam pelo mesmo), era algo que irritava os músicos que sempre foram perfeccionistas e pensavam em cada detalhe do trabalho que estavam lançando. No caso desse LP, misturavam-se canções do Help!, do Rubber Soul e mostrava em primeira mão 3 faixas do disco Revolver, até então inédito. 

Capa alternativa
A série de fotos criadas por Bob chamava The Somnambulant AdventureA imagem foi escolhida pelos próprios Beatles. Quando o presidente da Capitol, Alan Livingston, recebeu a arte original, entrou em contato com o empresário do grupo Brian Epstein pedindo para que reconsiderassem a idéia. Após conversar com os músicos, Epstein retornou o telefonema e disse que a arte era a visão dos rapazes sobre a guerra e que os garotos insistiam que a fotografia fosse mantida. Em sua coletiva de imprensa de 1966, quando questionados sobre o retrato, John Lennon disparou: “É tão relevante quanto o Vietnam. Se as pessoas conseguem aceitar algo tão cruel quanto a guerra, então conseguem lidar com essa imagem”. Havia ainda mais uma razão que Lennon admitiria mais tarde. Na época, a imprensa criou uma rivalidade entre Beatles e Stones (que só existia na cabeça dos críticos) e tratava os Beatles como bonzinhos e os Stones como os garotos maus. John sempre odiou essa imagem de anjinhos e queria quebrá-la a todo custo. Mas a a arte não era unanimidade dentro da banda. George Harrison sempre odiou a capa.

Obviamente, sendo um país conservador, tiveram problemas. Várias lojas se recusavam a receber o disco, outros se recusavam a expor nas vitrines. Não demorou muito e o disco foi recolhido. Na ocasião, foram prensadas 750.000 cópias, o que gerou um prejuízo considerável para a Capitol. Inicialmente, os executivos queriam destruir os LPS, mas alguém de dentro da gravadora teve a ideia de criar uma nova arte, passar por cima da imagem dos açogueiros, e retorná-lo às lojas. A jogada deu certo. O disco voltou ao mercado com uma arte mais inofensiva e atingiu status de disco de ouro, minimizando os prejuízos. Atualmente, o LP com a arte original, em sua primeira prensagem, segundo o site rarebeatles.com, está avaliado entre U$1.500,00 e U$3.000,00 na versão mono. E U$3.000,00 a U$7.000,00 a versão estéreo. E aí? Tem coragem de encarar?