domingo, 26 de abril de 2015

Vaias ao Black Veil Brides: a triste realidade do público metaleiro

Por Rafael Menegueti

Os integrantes do Black Veil Brides
Eu não estive no Monsters of Rock neste sábado (25/04). Acompanhei apenas as notícias que saíram nas redes sociais e sites a respeito do que rolou. Mas uma coisa que eu já sabia que aconteceria a muito tempo, na mesma época que o line-up do festival foi anunciado era: Black Veil Brides seria vaiado. Era mais do que óbvio, pois é uma tradição do público de rock e metal, especialmente no Brasil.

A banda tinha uma tarefa difícil: tocar para um publico que aguardava Motörhead (que viria a ser cancelado por problemas de saúde de Lemmy), Judas Priest e Ozzy Osbourne, três dinossauros do metal, sendo eles uma das bandas da nova safra, e bem diferentes em sua proposta. Claro que os headbangers não estavam nem aí pra isso. Um dos grandes problemas desse público é viver de um passado que não volta mais, e simplesmente ignorar a evolução que o estilo sofreu ao longo dos anos.

Deixo claro uma coisa: Eu não gosto de Black Veil Brides. Acho eles uma banda sem graça, com músicas fracas, um visual e atitudes forçadas e com uma exposição exagerada na mídia especializada. Até são bons músicos (o vocalista tem um ótimo timbre grave, por exemplo), mas o som não me desce. No entanto, se estivesse em um festival, JAMAIS os vaiaria. Isso porque eu tenho algo que falta em muitos headbangers hoje em dia, o respeito. Não só pelo artista, mas pelos outros fãs.

Segundo algumas reportagens, o vocalista da banda norte-americana, Andy Biersack, teria se incomodado com as vaias e os gritos de “Motörhead” vindos da plateia. Ele chegou a se desculpar e abandonar o palco junto da banda por alguns minutos, segundo o site da “Rolling Stone”, e quando voltaram, já não exibiam mais o mesmo animo do início da apresentação. Mas ele não deveria ter que se desculpar. Por mais frustrante que possa ser, não é culpa da banda ter sido escalada para um festival junto de tantas atrações que quase nada tem a ver com eles. A banda está ali fazendo o seu papel, e o mínimo de respeito por isso deveria existir (talvez quem devesse ser vaiado fosse a organização, pela longa e demorada fila que os fãs relataram ter que atravessar para entrar, mas isso não vem ao caso agora).

Andy Biersack durante o show. Foto: Gustavo Vara (Rolling Stone)
Eles vieram ao Brasil para tocar para seu público, em um grande festival, um passo importante para uma banda de trajetória mais recente. Estando eles no line-up do festival, qualquer pessoa mais civilizada deveria simplesmente aguardar a passagem da banda pelo palco. Imagine-se na posição dos fãs do grupo, querendo ver a banda que gostam e tendo de aguentar hostilidades, xingamentos e falta de respeito ininterruptas, estragando assim um momento que deveria ser lembrado como algo feliz. Se não gostam de uma banda, qual é o problema de ficar por 45 minutos esperando civilizadamente o show terminar? O show da banda que você gosta vai acontecer logo mais, e será a sua vez de se divertir. Por que ser egoísta desse modo e estragar a diversão dos outros?

E não venham me dizer que essa atitude não é exclusividade do Brasil. Dane-se isso. Não é porque o vizinho joga lixo no quintal que você vai achar correto fazer o mesmo, certo? O Black Veil Brides, assim como outras bandas também já foram vaiadas em outros eventos lá fora, mas o brasileiro faz isso de modo ainda mais desrespeitoso, isso é fato. Quando estive conversando com um colega que já viu festivais na Europa ele foi bem claro dizendo que o público lá raramente vaia, e, na maioria das vezes, se o faz é porque reprovou alguma atitude da banda. No geral, se uma banda toca em um festival onde a maioria dos presentes não são seus fãs, a maioria acompanha o show calada, sem ofender os artistas no palco nem seus fãs, porque sabem que sua vez de ver uma banda que gosta virá mais tarde.

Enquanto ficarmos fazendo esse papel estúpido de ódio e intolerância com tudo que não vai de acordo com nossos gostos pessoais, impossível a cena ir pra frente. São atitudes como essa que aos poucos enfraquecem a cena. Basta entender que tem espaço pra todas as bandas, de todos os estilos, propostas e vertentes, atuais ou não. O fato de um grupo mais novo e diferente estar fazendo sucesso não vai fazer com que a banda que você gosta ou defende perca espaço. Eu sempre digo que música não é competição. Sejamos mais coerentes nas próximas oportunidades e vamos mostrar para todas as bandas a fama positiva que o público brasileiro sempre teve com as bandas internacionais: de sermos calorosos e apaixonados. E que o respeito passe a ser outra característica positiva dos fãs de metal, não só aqui, mas em todo lugar. Do contrario, quem realmente merecerão as vaias seremos nós.