terça-feira, 6 de outubro de 2015

Ana Cañas – Sesc Santo Andre (03/10/2015):



Por Davi Pascale
Foto Show: Natália Pepe (extraída da página oficial do Facebook da cantora)

Cantora paulista empolga platéia com novo show. Dona de uma ótima presença de palco e voz potente, a garota entra de cabeça no universo do rock n roll. Apresentação teve ingressos esgotados.

Quem compareceu ao Sesc Santo Andre no último sábado, se deliciou com uma bela apresentação da Ana Cañas. A influência de rock sempre esteve presente no seu trabalho, mas nunca de maneira tão evidente. Os violões deram espaço às guitarras distorcidas. Os covers de Edith Piaf e Chico Buarque sumiram. A banda diminuiu. O volume aumentou.

A garota fez o show que todo fã de rock gosta: direto e cheio de atitude. Sem atrasos, a moça subiu ao palco no horário previsto: 20h. Seu visual mudou um pouco desde seu DVD ao vivo (o bom Coração Inevitável). Embora continue com cabelos longos, roupa preta, tatuagem à mostra, estava com um visual mais despojado. O vestido longo deu espaço à uma roupa mais curta. O som, contudo, foi onde apresentou maior mudança. Quem foi ao show esperando uma apresentação de MPB, se espantou. Quem foi conferir de perto do que é capaz, se divertiu. E bastante!

A moça parece ser uma antítese contra toda a caretice que se encontra em boa parte da música brasileira atualmente. Carismática, conversa com a platéia entre as músicas. “Estou me acostumando à tocar em palcos maiores e teatro tem essa pegada mais intimista. Todo mundo quietinho. Da próxima vez, vou distribuir uns birinaites na porta pra ver se a galera sai dançando”, brincou, arrancando gargalhadas do publico. A garota não perdia o bom humor nem com as provocações dos rapazes da platéia. “Todo show tem esses loucos. Mas, beleza, louca atrai louco, certo?”.

Cantora no show do último sábado

Seu novo álbum, (o ótimo) Tô Na Vida, é seu primeiro álbum 100% autoral e já deixava claro sua aproximação com o rock n´ roll. Na verdade, ela sempre deu algumas dicas. Seu segundo disco, Hein?, já tinha uma vibe roqueira e contava com autoria do ex-Titãs Arnaldo Antunes em diversas faixas. Em seu terceiro trabalho, provocou o ouvinte ao entregar uma versão jazzística de “Rock n´ Roll” do Led Zeppelin. Quem acompanhou seu trabalho de perto, sacava que existia uma admiração pela cena desde sempre. No novo show, contudo, as eventuais dúvidas caem por terra. Seja pelo trabalho de guitarra de Lucio Maia (Nação Zumbi), seja pelo trabalho vocal de Ana. Endiabrada, a garota não consegue se segurar e ataca a voz para cima diversas vezes.

A nova banda é enxuta. Um guitarrista, um baterista, um baixista e nada mais. A artista ficou responsável por fazer segunda guitarra e violões em algumas canções. O set foi dividido misturando faixas do novo álbum com canções de seus antigos discos e que são essenciais em seus shows. Quase todas com uma dose extra de distorção. O clássico do Zeppelin, inclusive, ganhou uma nova cara, resgatando o espírito roqueiro, mas sem se prender ao arranjo original. Não faltaram músicas como “Será Que Você Me Ama”, “Urubu Rei”, “Esconderijo”, “Existe”, “Coisa Deus” e “O Som do Osso”. Durante sua nova faixa de trabalho, “Tô Na Vida”, Ana convidou ao palco Mabel. A garotinha de apenas 11 anos, filha do guitarrista, estava visivelmente assustada, mas se saiu bem e foi bastante aplaudida.

Durante aproximadamente 100 minutos, a cantora entregou um espetáculo divertido, profissional, cheio de garra e atitude. Nos anos 90, a falecida Cássia Eller conseguiu ganhar a admiração do publico das duas vertentes. Embora tenha características diferentes da cantora carioca, Ana Cañas tem de tudo para repetir o feito. Vejamos o que o futuro aguarda.