quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Lobão – Em Busca do Rigor e da Misericordia: Reflexões de Um Ermitão Urbano (2015):



Por Davi Pascale

Cantor e compositor Lobão chega ao seu terceiro livro. Em Busca do Rigor e da Misericordia traz o musico comentando sobre o processo de seu novo álbum e tudo que aconteceu com ele nesse período. Muito bem escrito, material se torna leitura necessária entre seus admiradores.

Desde que sua auto-biografia 50 Anos a Mil se tornou um best seller, Lobão pegou gosto por escrever além de letras de canções. Tornou-se colunista da Veja, lançou O Manifesto do Nada Na Terra do Nunca. Livro que foi repleto de ataques e mal entendidos. Isso não fez com que o artista abaixasse a cabeça, contudo. Além de seu método de composição e temática das letras, musico volta a se posicionar sobre os ataques sofridos durante esse período.

Está tudo registrado aqui. Sua participação nas passeatas, sua aproximação com Olavo de Carvalho, sua suposta mudança à Mimai, sua visita à Brasília. Comenta das dificuldades enfrentadas em seu âmbito familiar e no impacto que todos esses fatores tiveram em sua carreira recentemente.

Para quem é músico ou compositor, o livro é um prato cheio. O músico comenta dos instrumentos que utilizou em cada faixa, das afinações, das inspirações. Nas ideias para mudanças de andamento. O que sentia, o que tentou transmitir. Tanto nos arranjos, quanto nas letras. Ao final de cada explicação, vem a letra na integra. Claro, somente das canções de seu novo álbum. A ideia é refletir o hoje, o período atual. O passado já está retratado em seu primeiro livro.

Autógrafo do Lobão na minha cópia de Em Busca do Rigor e da Misericórdia. Valeu Lobão!

Todas as situações políticas ou familiares são contadas no inicio de cada capítulo, com a ideia de fazer o leitor compreender, o que o levou a retratar aquele tema daquela forma em que aparece no disco. Compreender o que acontecia em seu mundo. Suas vivencias interferem diretamente no seu processo de composição. Ao menos, neste álbum.

Lobão fez em O Rigor e a Misericórdia tudo aquilo que esperamos de um artista sério. Uma obra honesta, sem preocupação inicial com viés comercial. Musicas que reflitam seu estado de alma. Total entrega na concepção e produção do disco. Enquanto muitos gastam fortunas com produtores renomados e estúdio de ponta, o musico fez diferente. Montou um estúdio no quintal de sua casa, aprendeu a manusear os equipamentos e foi em busca daquilo que considerava a sonoridade perfeita.

A ideia de solidão se estendeu à criação do álbum. Lobão não gravou apenas os instrumentos esperados por ele (guitarra, voz e bateria), gravou absolutamente tudo. Baixo, teclado, backing, tudo. Tarefa corajosa e ingrata.

A leitura é intrigante. Escrita em primeira pessoa, o musico relata passo-a-passo todo o processo, todos os ataques reais e cibernéticos mantendo seu estilo de fala. Ou seja, debochado, irônico, irreverente, reflexivo, provocativo e, acima de tudo, com enorme inteligência. Essencial entre os admiradores do velho lobo.

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