sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Poison – Seven Days Live (1993/2006):



Por Davi Pascale
Publicado originalmente no site Consultoria do Rock


Seven Days Live ainda é meu vídeo preferido do Poison. Ele não foi gravado no auge do sucesso. E, sim, no auge da banda enquanto banda. Richie Kotzen trouxe uma nova vibe para os músicos que acabou interferindo não apenas no álbum que realizaram juntos, mas também nas apresentações.

Comecei a me ligar no Poison ainda criança. Ouvi Look What The Cat Dragged In, Open Up... And Say Ahhh! e Flesh And Blood pela primeira vez em vinil. Não por status ou por querer parecer cool, mas porque era o formato do momento. Simples assim... A entrada de Richie Kotzen deu uma nova cara para o grupo de L.A. Conhecido por serem uma banda de glam-metal festiva, os músicos começaram a embarcar em um hard rock mais pesado com fortes influencias de blues, funk e soul.

O novo direcionamento tinha algumas razões de ser. Primeiro, a mudança do guitarrista. Saía o sempre animado C.C. Deville para a entrada de Kotzen, um musico com mais técnica, que explorava mais o feeling. Outra razão de ser é a época em que o rock atravessava. Aquela sonoridade hair metal, que o pessoal no Brasil gostava de tirar sarro chamando de rock farofa, estava saindo de cena. O mercado agora estava voltado para o som do rock alternativo que naquela época era conhecido como grunge. Havia uma necessidade de se reinventar, caso quisessem continuar na mídia.

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Capa do VHS da época
Vários artistas que apostavam no hard rock modificaram o seu som na época. Winger, Bon Jovi, The Cult, Warrant… Todos eles, em determinado momento, tentaram vir com nova proposta de som e, algumas vezes, de imagem. Toda mudança é marcada por um recomeço e com essa galera não foi diferente. Tirando Van Halen e Bon Jovi, todos os demais grupos de hard rock abandonaram as arenas e estádios e voltaram a tocar em casas menores. Inclusive o Poison...

Seven Days Live foi gravado no Hammersmith Apollo, na época com o nome de Labatt´s Apollo, uma casa respeitada, onde vários álbuns ao vivo foram gravados, mas longe de ter espaço para um enorme público. A capacidade da casa é próxima de 4.000 pessoas. Uma espécie de HSBC da Inglaterra. O video foi lançado no Brasil, na época do VHS. Mas sua versão em DVD, que chegou ao mercado em 2006, somente edição importada mesmo.

O show mostrava um cenário de transição. Os músicos mantinham alguns elementos de seu velho show (roupa de oncinha, algumas coreografias, etc), ao mesmo tempo em que vinham com novos elementos. Um cenário mais simples, sem rampas, raio lasers, e um pouco mais de improviso. Cenário onde o novo integrante liderava.

Richie Kotzen, ainda um garoto, já chamava a atenção por sua técnica apurada e seu lado showman. O rapaz estava um degrau acima dos demais músicos do conjunto. Demonstrava enorme segurança e inspiração em sua performance. Kotzen deu uma cara sua para as velhas canções, introduzindo novos solos e mantendo sua palhetada característica.

Bret Michaels sempre foi competente, mas bem limitado em termos de alcance. Embora seu trabalho vocal não comprometa, acaba chamando mais a atenção por sua energia no palco e seu lado showman. Rikki Rockett, por outro lado, demonstrava que havia estudado um pouco e se mostrava mais seguro, com menos acrobacias. Além de ter realizado um solo de bateria respeitável.

Poison2O repertório mesclava músicas de seu até então recém-lançado álbum, (o ótimo) Native Tongue, com musicas de sua antiga fase. Aquelas que são consideradas essenciais. Dentre essas, vale destacar “Good Love”, com direito à um bom solo de gaita de Bret, além das sempre enérgicas e divertidas “Look What The Cat Dragged In”, “Ride The Wind”, “Uskinny Bop” e “Nothin´ But a Good Time”. Outros ótimos momentos ficam por conta de “Body Talk”, “Seven Days Over You” e “Until Your Suffer Some (Fire & Ice)”.

Bret continuava com seu velho estilo. Correndo de um lado para o outro, dando alguns pulos e tocando a mão da galera que se espremia na frente do palco. Rikki Rockett continuava com seu jeito alegre, girando baqueta, usando boné em algumas musicas e seu velho quepe em outras. Em alguns aspectos, ainda eram o velho Poison de sempre. Poderiam não estar mais com a mesma atenção que tinham, mas a energia continuava intacta.

O Poison continuava realizando um show alegre, enérgico, só que agora mais profissional. Estavam em seu melhor momento enquanto instrumentistas. Tudo parecia apontar para o começo de uma nova fase, mas infelizmente, a parceria com Kotzen duraria pouco e o (bom) músico Blues Saraceno assumiria sua posição (se apresentando, inclusive, com a banda aqui no Brasil como parte do cast do festival Hollywood Rock em 1994). Crack a Smile tentava manter o caminho trilhado em Native Tongue, mas sem o mesmo sucesso. Foi somente depois que o amalucado C.C. Deville retornou ao grupo que a banda voltou a encher arenas e estádios, vindo a registrar, inclusive, um novo DVD ao vivo, mas isso é papo para outro post...

Faixas:

The Scream
Strike Up The Band
Ride The Wind
Good Love
Body Talk
Something to Believe In
Stand
Fallen Angel
Look What The Cat Dragged In
Until You Suffer Some (Fire & Ice)
7 Days Over You
Uskinny Bop
Talk Dirty To Me
Every Rose Has It´s Thorn
Nothin´ But a Good Time