sexta-feira, 19 de maio de 2017

O Adeus à Chris Cornell



Por Davi Pascale

Ontem, foi divulgada a notícia da trágica morte de Chris Cornell. Provavelmente, uma das ultimas grandes vozes do rock. E a lógica se mantém... Agora que o cara morreu, todos referem-se à ele como um gênio. A razão para que isso sempre ocorra é uma só. A imprensa sempre dá espaço para os modismos e ignora grandes artistas. (Ou, ao menos, não dão o tratamento à altura. O que acredito que seja mais o caso aqui). E quando recebem essas notícias trágicas, cai a ficha e bate o sentimento de mea-culpa.

Chamá-lo de gênio pode ser um pouco de exagero, mas certamente esse é um cara que será muito lembrado e acredito que muitos ainda resolvam lhe dar o devido valor em um futuro não muito distante. Chris Cornell nos demonstrou diferentes faces musicais durante sua trajetória. E em muitas, fez trabalhos brilhantes. Algo que pouquíssimos artistas conseguem.

A primeira vez em que nos chamou a atenção foi à frente do grupo Soundgarden. Quem viveu o início dos anos 90, recorda-se que eles foram um dos pilares do movimento grunge. Soundgarden, Alice In Chains, Nirvana e Pearl Jam eram os artistas que lideravam a cena. O grupo de Chris foi quem deu o pontapé inicial nessa história toda. Foi o primeiro artista do movimento que arriscou assinar com uma gravadora grande e ver onde conseguiam chegar naquela história toda. E fizeram bonito. Louder Than Love, Badmotorfinger e Superunknown são álbuns clássicos do gênero. Isso por si só já seria mais do que suficiente para ter seu nome escrito na história do rock.

Sempre existiram diversos questionamentos em cima da cena grunge. Muitos questionavam a qualidade técnica dos músicos, muitos os acusavam de terem matado o hard rock. Mas o cara sempre esteve acima de tudo isso. Basta notar os artistas que resolveram postar homenagens ao rapaz em suas pages. Desde ícones do rock n roll – como Jimmy Page (Led Zeppelin), Elton John, Peter Frampton e Paul Stanley (Kiss) – até artistas da tal cena hard. Sebastian Bach (Skid Row) foi um dos que ficaram abalados. E todos fizeram questão de ressaltar o talento do músico. Sem exceção... 

Depois, voltou a nos chamar a atenção com sua ótima estreia solo, Euphoria Morning. Demonstrando um álbum que era praticamente o oposto do que esperaríamos dele. Mais melódico, apostando menos no peso e mantendo as referências psicodélicas. Era o início de um novo capítulo. Sua ótima carreira-solo teve apenas um ponto baixo, quando Cornell se permitiu passear pelo eletrônico de mãos dadas com o Timbaland no errôneo Scream. Foi em sua trajetória solo que tive a oportunidade de assisti-lo nos palcos. Em 2007, fui até o Credicard Hall conferir sua apresentação na época do (ótimo) Carry On. Noite simplesmente memorável...

Mas sua grande reinvenção foi quando juntou-se aos músicos do Rage Against The Machine para criarem o Audioslave. O álbum de estreia dos caras é certamente um dos grandes álbuns dos anos 00. Durante um tempo, todos deixaram de torcer por um possível retorno do Soundgarden e do Rage Against. Mais uma grande banda havia nascido... Quem acreditava que o projeto não seria tão mágico quanto o Temple of the Dog, quebrou a cara. E bonito!

Sua morte ainda é um mistério. E qualquer que tenha sido o motivo (enforcamento, segundo os legistas e excesso de Ativan - remédio para ansiedade – segundo sua esposa), o rock perde mais um grande talento. Perde um grande cantor, um grande compositor e um artista íntegro. Obrigado pelos ótimos momentos, Chris. “Say hello to heaven”...

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