quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Nando Reis – Jardim Pomar (2016):



Por Davi Pascale

Quando abandonou os Titãs, muitos acreditaram que sua decisão era impulsiva e errada. O tempo veio mostrar que não. Na verdade, o baque foi maior para a banda que, mais uma vez, perdia um de seus grandes talentos. Nando sempre foi um músico competente. Mais do que isso, sempre foi um compositor de mão cheia. Soube guiar sua trajetória melhor do que seus ex-companheiros.

Muitos dizem que seu trabalho não é rock. Que é MPB. Diria que é um pouco de cada, mas se fomos levar essa acusação a ferro e fogo também seria “problemático” dedicarmos tempo à artistas como Rita Lee, Secos & Molhados, Mutantes... Não é de hoje que existe a influência de MPB dentro do rock brasileiro. E vice-versa. Quando bem feito, não vejo problema nenhum nisso.

Para trabalhar em Jardim-Pomar o músico trouxe de volta as mãos e o conhecimento de Jack Endino. Renomado produtor norte-americano responsável por dar uma cara ao que ficou conhecido como grunge. O mesmo Jack Endino que produziu o álbum de estreia do Nirvana. E o mesmo Jack Endino que produziu o polêmico (e brilhante) Titanomaquia. Lembra a acusação de que os Titãs estavam tentando embarcar na onda do grunge? Pois é...

“Infinito-Oito”, “Deus Meu” e “Inimitável” abrem o CD com um ar rock n roll e com uma forte influência de 70´s. Uma pegada meia Led Zeppelin, meia Rolling Stones. Não é nenhum choque, na verdade. Nando já havia feito essa brincadeira em “No Recreio” anos atrás.


Novo álbum traz Jack Endino, Mike McReady, Peter Buck e ex-parceiros do Titãs

Muito relacionado à emblemática obra dos Titãs, muitos se esquecem que o ruivão é um artista multi-facetado. Que já teve composições suas gravadas por artistas de diferentes estilos. De Cidade Negra à Cássia Eller. Esse ecletismo reflete em suas composições. “Lobo Preso em Renda” e “Pra Onde Foi” são rocks mais calmos com uma forte influência de Neil Young. Os violões sutis de “Água-Viva” vão de encontro à velha MPB. “Concórdia” que havia sido gravada por Elza Soares em Vivo Feliz ganha um tom melancólico e old school. “Só Posso Dizer (São Paulo)” é a típica balada feita para tocar nas rádios. Enfim, temos um pouco de tudo nesse trabalho.

Mike McReady (Pearl Jam) e Peter Buck (R.E.M.) emprestam seus “dotes guitarrísticos”, mas acredito que a maior curiosidade de seus velhos seguidores seja a faixa “Azul de Presunto”, onde traz de volta seus velhos parceiros Branco Mello, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Arnaldo Antunes. Além de um curioso trio feminino formado por Luiza Possi, Tulipa Ruiz e Pitty. A canção é marcada por um ótimo gingado e participações sutis.

Lançado de maneira independente, Jardim-Pomar apresenta, mais uma vez, um trabalho bem acabado e inspirado. Com uma caprichada arte gráfica, excelente produção e composições fortes, o disco torna-se uma audição intrigante. Escute!

Nota: 8,0 / 10,0
Status: Eclético e consistente

Faixas:
      01)   Infinito Oito
      02)   Deus Meu
      03)   Inimitável
      04)   4 de Março
      05)   Só Posso Dizer (São Paulo)
      06)   Concórdia
      07)   Azul de Presunto
      08)   Lobo Preso em Renda
      09)   Pra Onde Foi
      10)   Como Somos
      11)   Água-Viva
      12)   Pra Musa 
      13)   Só Posso Dizer (Seattle)

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