segunda-feira, 20 de março de 2017

Nenhum de Nós – A Obra Inteira de Uma Vida (2016):



Por Davi Pascale

Livro passa a limpo a trajetória de um dos nomes mais fortes da cena gaúcha. Escrito de maneira jornalística, publicação demonstra uma banda íntegra e bem administrada.

O auge comercial do rock n roll, no Brasil, foi a década de 80. Embora as cenas de São Paulo e do Rio de Janeiro tenham dominado as rádios, havia uma galera que conseguia furar a barreira. Surgiram grandes nomes de Brasília, da Bahia e também do Rio Grande do Sul. Um desses nomes foi o Nenhum de Nós.

Nos primeiros anos, dava a impressão de que ninguém derrubaria os caras. “Camila, Camila” e “Astronauta de Mármore” (versão em português de “Starman” do camaleão David Bowie) tocavam a exaustão nas rádios. Com o tempo, a mídia foi se afastando dos caras. Existem casos que são compreensíveis, como quando o líder da banda pula fora do barco ou quando insistem em se desligar do som e da imagem que os consagrou. Só que isso nunca aconteceu no universo do Nenhum de Nós e os rapazes conseguiram manter a qualidade dos seus álbuns com o passar dos anos. Dessa galera que faz um som mais comercial, é uma das bandas mais interessantes que temos. Realmente, uma pena...

Marcelo Ferla escreve toda a trajetória dos garotos de Porto Alegre. Contando com uma linguagem simples e diversas ilustrações, a leitura corre fácil. Tendo contado com o apoio dos próprios músicos, o livro traz vários depoimentos interessantes. Desde as gravações dos discos até curiosidades da estrada.

Explicam o porquê de muitos torcerem o nariz para os garotos e os acusarem de ser uma armação de estúdio (o que, de fato, nunca foram).  Comentam a chegada ao mercado independente, explicam as letras de “Camila, Camila” e “O Astronauta de Mármore”, seus maiores sucessos. Enfim, material bem bacana...

Durante a leitura fica claro que as gravadoras não tinham a menor preocupação artística com seus contratados, somente com as vendas. Algo que diversos artistas declararam ao longo dos anos e que os executivos sempre negavam. Por mais de uma vez, declaram que mostravam o disco empolgados para a gravadora e viam os responsáveis desprezando o material alegando que não tinha uma nova “Camila, Camila”.

Mesmo longe dos holofotes da grande mídia, os músicos conseguiram criar uma boa leva de seguidores e criaram uma carreira íntegra. Até hoje, se mantêm soltando álbuns e fazendo shows. Souberam se reinventar também na questão de estrutura. E isso torna a história ainda mais intrigante.

Os músicos se demonstram bem pé no chão, mostram que nada foi por acaso. Em cada disco, sabiam exatamente o que queriam passar e mantinham seus ideais, mesmo quando o produtor torcia o nariz. Livro altamente recomendado para aqueles que querem conhecer um pouco mais da historia do grupo de Thedy Corrêa e também para aqueles que querem ter uma noção de como funciona os bastidores da indústria musical (a historia da pisada de bola do músico Seu Jorge é realmente lamentável). Recomendadíssimo!