sábado, 27 de maio de 2017

Kid Vinil - Kid Vinil Experience (2014):



Por Davi Pascale

Semana passada, tivemos dois artistas que faleceram e que me entristeceram profundamente. Um foi o Chris Cornell, quem cheguei a homenagear aqui em nossa página e que cheguei a acompanhar desde a explosão do Soundgarden. E o outro foi Kid Vinil. Artista que tive meu primeiro contato, ainda criança, ouvindo o compactinho de "Sou Boy" e que tive o privilégio de conhecer pessoalmente anos mais tarde, nas minhas andanças por aí. Não quis escrever logo em seguida do post de Cornell, para não deixar a página muito para baixo e também achei que seria legal fazer em um momento onde o assunto não fosse a bola da vez para não perder o tom de homenagem. Mas claro que não tinha como deixar o assunto passar batido...

Muitos se lembram de Kid por seu trabalho à frente do Magazine. Muitos por sua enorme coleção de discos e pelas trocas de informações nas redes sociais. E muitos por seu trabalho em revistas, rádio e TV, onde demonstrava muitos artistas em primeira mão. Muitas pessoas descobriram o trabalho de seu artista favorito através do Kid Vinil. Ou seja, em outras palavras, sempre por sua relação à música. Portanto, não tem maneira melhor de homenagear essa grande figura do que falando justamente sobre sua música.

O Kid Vinil Experience foi um compacto que o cantor lançou de maneira totalmente independente em 2014 e foi seu último trabalho. Lembro que adquiri o disco de suas próprias mãos em uma feira de discos no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo. Inclusive, ele assinou meu exemplar...

Curiosamente, embora seu nome esteja no nome da banda, a construção das musicas não contaram com as mãos de Kid. O guitarrista Carlos Nishimiya era quem estava mais a frente das composições. Por ser um trabalho totalmente independente (foi prensado não mais do que 400 cópias e lançado pelo selo Kid Vinil Records), não é preciso dizer que a produção é bem simples. Arte da capa bacaninha. Um desenho alegre dos integrantes da banda. Contracapa toda verde, apenas com as informações básicas. Direto ao ponto. Qualidade de gravação, bem crua e honesta. Dá até a impressão de que os músicos gravaram tocando ao vivo no estúdio.

Trata-se de um compacto simples. Ou seja, uma música de cada lado. No lado A temos “Beatriz”. Uma balada pop/rock com uma pegada bem anos 60. Uma levada meia beatle. Letra que narra o final de uma paixão com uma linguagem até meia inocente. Algo que funciona super bem já que essa faixa tem essa levada nostálgica. Muito bacaninha e super bem construída.

“Música Panfletária”, como entrega o nome, trata-se de uma crítica política. As letras não trazem aquela veia de humor que tinham nos tempos de “Sou Boy”, são mais sérias, mas não chegam a serem agressivas. Carregam um pouco daquela linguagem que os artistas dos anos 80 traziam. No caso dessa última, uma linguagem meio Ira!, meio Inocentes. O arranjo surfa nas ondas do punk rock.  Outra boa canção.

Quem teve a oportunidade de estar à sua frente, nem que por breve segundos, sabe que Kid Vinil era uma figura carismática, alegre, sempre estava de bem com a vida. A primeira vez que conversei com ele foi por telefone, em 2007, com um convite para escrever para a RockLife, revista que eu tinha e que estava reestruturando na época, que ele topou. Infelizmente, não conseguimos levar o novo projeto adiante e os textos dele não puderam ser publicados, o que é algo que lamento imensamente. O conhecimento que esse cara tinha sobre música era algo realmente impressionante. Sem dúvidas, uma grande perda para a música brasileira e também para o jornalismo musical brasileiro. Valeu Kid, o grande herói do Brasil!

Nota: 8,0 / 10,0
Status: Honesto

Faixas:
      01)   Beatriz
      02)   Música Panfletária