quarta-feira, 5 de julho de 2017

Chuck Berry – Chuck (2017):



Por Davi Pascale

Chuck Berry foi grande por diversos motivos. Além de ter feito parte da primeira geração do rock, de ter influenciado milhares de artistas (muitos deles, tidos também como clássicos – caso dos Beatles e dos Rolling Stones), de ter criado clássicos do gênero (“Maybelline”, “School Days”, “Rock And Roll Music” e “Johnny B. Goode” são grandes exemplos), ele também foi essencial para que o rock tivesse a cara que tem hoje. Foi o primeiro a analisar a criação de riffs como algo importante na estrutura da canção, um dos pioneiros na introdução do solo de guitarra, um dos primeiros a fazer músicas com temáticas jovens, além de ter uma grande preocupação com o lado showman. Quem não se lembra do famoso duck walk? Quando digo pioneiro, me refiro aos artistas do gênero, é claro...

Chuck foi lançado após sua morte, mas não era para ser assim. Esse era para ter sido o ultimo disco de sua carreira, não o primeiro póstumo, mas o destino quis desse jeito. Em 18 de Junho de 2017, Chuck Berry foi encontrado morto, vítima de um ataque cardíaco, aos 90 anos de idade. 3 dias depois, a gravadora anunciou o lançamento do disco que o guitarrista vinha comentando em entrevistas desde Outubro de 2016.

Para a gravação, Berry contou com sua banda de apoio, a famosa The Blueberry Hill Band formada por Robert Lohr nos pianos, Jimmy Marsala no baixo, Keith Robinson na bateria e o próprio Chucky nas guitarras e vozes. Há algumas participações especiais por aqui. Sendo as mais interessantes; seus 3 filhos (Charles Berry Jr., Charles Berry III e Darlin´ Ingrid Berry), além de Tom Morello (Rage Against The Machine, Audioslave) e Gary Clark Jr.

Esse é seu primeiro álbum de inéditas desde Rock It! (1979), mas pouco mudou. O som continua simples, direto, sem firulas. As faixas continuam curtas (apenas uma delas chega à 5 minutos). O som da guitarra salta nos falantes. A voz de Chuck, ao menos no álbum, não dava sinais da idade. Mesmo contando com participações mais jovens (caso de Morello e Clark Jr.), Berry não teve a preocupação de modernizar seu som. Pelo contrário, fez um álbum que é sua cara e que poderia ter sido lançado logo após o Rock It! ou, até mesmo, alguns anos antes...

Há várias músicas aqui que são, simplesmente, mágicas. “Big Boys” traz um trabalho de guitarra bem na onda de “Johnny B. Goode”. Lógica que se repete em “Lady B. Goode”. Uma espécie de parte 2 do clássico de 1955. “Wonderful Woman” apresenta um rock n roll old school empolgante. “Eyes Of a Man” e “You Go To My Head” apresentam um blues extremamente eficiente. A coisa cai um pouco de nível no final do disco com “Dutchman” e “Jamaica Moon”, mas nada que seja digno de represálias. Gary Clark Jr. e Tom Morello gravaram dentro do estilo de Berry. Nada de solos longos ou experimentações malucas. O que temos aqui é  o rock em sua essência.

Muito legal ver que o cara chegou aos 90 anos com vontade de tocar, cantar, gravar. De fazer as coisas do seu jeito, de entregar um trabalho tão bem feito e honesto. Certamente, não dá para dizer que é um dos pontos altos de sua gloriosa carreira, mas também não dá para ficar indiferente à esse lançamento. Em tempos onde podemos ouvir quantas músicas quisermos sem pagar nada por isso, ouvir esse lançamento é meio que uma obrigação para qualquer pessoa que se autointitule roqueiro.

Nota: 7,5 / 10,0
Status: Honesto

Faixas:
      01)   Wonderful Woman
      02)   Big Boys
      03)   You Go To My Head
      04)   ¾ Time (Enchiladas)
      05)   Darlin´
      06)   Lady B. Goode 
      07)   She Stills Loves You
      08)   Jamaica Moon
      09)   Dutchman
      10)   Eyes Of Man